Hoje é uma quinta-feira gloriosa!
Rejubilemos.
Para que fique registado para a
posteridade, o Plano de Incentivo à Leitura deste blogue está surtir efeitos
surpreendentes. Estamos todos muito mais cultos na área literária e tarado-sexual.
Sim, sim… diz que sim…
Em especial para as comentadoras
apaixonadas Alex Nason, Saraa, denise (que devia estar a estudar), Cláudia,
margarida ladeira e PRINCIPALMENTE à Viviana Pereira para ver se deixa de querer bater no meu Z!
Tadinho do meu Z, só lhe faltava ter mais uma a querer dar-lhe porrada!
Father Mine - Capítulo 2
À medida que Zsadist acorda em pânico, tenta acalmar a respiração e
descobrir onde estava, mas os olhos não ajudavam. Estava tudo escuro… ele
estava envolvido numa escuridão densa e fria, independentemente do esforço que
fazia para ver, não conseguia. Podia estar num quarto, ou no terreno… numa cela.
Ele já acordara assim muitas, muitas, muitas vezes. Durante cem anos,
como escravo de sangue, ele acordava numa cegueira de pânico a imaginar o que
lhe iriam fazer e quem lho iria fazer. Depois de liberto? Os pesadelos
provocavam-lhe o mesmo.
Tanto num como noutro caso era uma merda. Quando era propriedade da
Senhora, preocupar-se com o quem, o quê e quando não o ajudou em nada. O abuso
era inevitável, quer estivesse para cima ou para baixo na plataforma. Era usado
até ela ou os seus garanhões estarem saciados; depois era deixado de qualquer
forma, degradado e a gotejar sozinho na prisão.
E agora, com os pesadelos? Acordar no mesmo terror que tinha quando era
escravo só validava os horrores passados que o subconsciente insistia em fazer
emergir.
Ao menos… pensou, estava a sonhar.
O verdadeiro pânico atingiu-o à medida que ponderava que escuridão se
impunha sobre ele. A escuridão da cela? Ou a escuridão do seu quarto e da
Bella? Não sabia. Ambas pareciam iguais quando não havia pistas visuais para
decifrar e apenas com o som do bater do coração nos ouvidos.
A solução? Tentar mover os braços e as pernas. Se não estivessem
presos, se não tivessem correntes, era só mais uma vez um estrangulamento
mental, o passado a chegar até ele através do lixo do cemitério das suas memórias
a apanhá-lo com as suas mãos ossudas. Enquanto pudesse mexer os braços e as
pernas pelos limpos lençóis, estava bem.
Os braços. As pernas. Precisava de os mexer.
Mexe.
Ó, Deus… mexe, caralho.
Os membros não mexiam e na paralisia do corpo as garras da verdade
rasgavam-no. Ele estava na escura e húmida cela da Senhora, acorrentado, de
costas, as grossas algemas de ferro a manterem-no na plataforma. Ela e os
amantes viriam outra vez por ele, e fariam com ele o que bem entendessem,
manchando-lhe a pele, sujando-o por dentro.
Gemeu, o som patético vibrava-lhe no peito e saía-lhe pela boca como
aliviado por se ver livre dele. Bella era o sonho. Ele vivia num pesadelo.
Bella era o sonho…
Os passos aproximavam-se das escadas escondidas que saiam do quarto da
Senhora, o som ecoava, ficando mais nítido. E era mais do que uma pessoa a
ecoar na pedra.
Com um horror animal, os músculos agarravam-se e puxavam-lhe o
esqueleto, a lutar desesperadamente para se livrarem da prisão conspurcada que
era a sua carne que estava prestes a ser tocada, invadida e usada. O suor
escorria-lhe pelo rosto e o estômago embrulhou-se, a bílis liderando um assalto
pelo esófago acima até à língua…
Alguém chorava.
Não… gemia.
Um choro de criança soava do canto mais longínquo da cela.
A luta cessou quando pensou no que estaria a fazer uma criança naquele
sítio. A Senhora não tinha crias, nem tinha engravidado naqueles anos que o
teve.
Não… espera… foi ele que trouxe a criança para aqui. Era a sua cria que
chorava… e a Senhora ia encontra-la. Ela ia encontrá-la e… Ó, Deus…
A culpa era dele. Foi ele que trouxe a cria para aqui.
Tirem a criança daqui para fora. Tirem a criança…
Z formou um punho e esmurrava a plataforma com os cotovelos,
elevando-se com todas as forças que tinha. A força vinha-lhe para além do
corpo, estava enraizada na sua força de vontade. Com um esticão massivo, ele…
não conseguiu nada. As algemas cortavam-lhe os pulsos e os tornozelos até ao
osso, cortavam-lhe a pele e misturavam-lhe o sangue com o suor frio.
A porta abriu-se, a criança chorava e ele não podia salvá-la. A Senhora
ia…
A luz espalhou-se sobre ele,
levando-o à consciência.
Estava fora da cama como se
tivesse sido atropelado por um Chevy
e aterrado em modo de luta com os punhos cerrados à altura do peito, os ombros tensos,
as pernas prontas para saltar.
Bella afastou-se devagar da lâmpada
que acendeu, como se não o quisesse assustar.
Ele olhou o quarto em volta. Não
havia, como era normal, ninguém com quem lutar, mas tinha acordado toda a
gente. Nalla estava a chorar no berço e ele tinha assustado de morte a sua shellan. Outra vez.
Não havia Senhora. Nenhum dos
consortes dela. Nenhuma cela ou correntes a mantê-lo esticado numa plataforma.
Nenhuma criança com ele na cela.
Bella saiu da cama e foi até ao
berço, erguendo uma Nalla de cara vermelha e a gritar. No entanto, a filha não
queria saber do consolo oferecido. Esticava os bracinhos gorduchos para
Zsadist, a chorar pelo pai, as lágrimas a cair.
Bella esperou um pouco, como se
tivesse esperanças que desta vez fosse diferente e que ele fosse ter com ela e
pegasse na criança ao colo e a consolasse como ela claramente queria.
Z afastou-se até os ombros baterem
na parede, abraçando o tronco com os braços.
Bella voltou-se e sussurrou à sua
coisa mais querida a caminho do berçário. A porta quando se fechou abafou o som
da filha a chorar.
Z deixou-se escorregar até o rabo
bater no chão.
- Merda.
Esfregou a cabeça para a frente e
para trás, depois deixou as mãos pender sobre os joelhos. Passado algum tempo,
apercebeu-se de que estava sentado como costumava sentar-se na cela, as costas
contra o canto, de frente para a porta, os joelhos para cima, o corpo nu e a
tremer.
Olhou para as marcas de escravo à
volta dos pulsos. O negro era tão denso na pele, tão sólido, eram como as
algemas de ferro que usou no passado.
Depois de sabe Deus quanto tempo,
a porta do berçário abriu-se e Bella regressou com a pequena Nalla novamente
adormecida, mas ao deitá-la no berço, fê-lo com tanto cuidado como se uma bomba
estivesse prestes a explodir a qualquer momento.
- Desculpa – disse ele suavemente
a esfregar os pulsos.
Bella vestiu um robe e foi para a
porta que conduzia ao corredor. Com a mão na maçaneta, olhou para ele, o olhar
distante.
- Não posso dizer que isto esteja
bem.
- Tenho muita pena pelos
pesadelos…
- Estou a falar de Nalla. Não
posso dizer que ignorá-la está bem… que compreendo, que tudo vai melhorar e que
serei paciente. A verdade é que ela é tão tua filha como minha, e mata-me
ver-te a afastares-te dela. Sei pelo que passaste e não quero ser insensível,
mas… para mim mudou tudo - Tenho que pensar no que é melhor para ela, e ter um
pai que nem sequer lhe toca? Isso não é bom.
Z abriu as duas mãos e ficou a
olhar para elas, a tentar imaginar-se a pegar nela.
As faixas de escravo pareciam-lhe
enormes… e contagiosas.
Não é que ele não pegasse nela.
Era que não podia.
Se ele consolasse Nalla e
brincasse com ela e lesse para ela, significaria que ele era o seu pai, e o
legado não era coisa que quisesse para um filho. A filha de Bella merecia
melhor.
- Preciso que decidas o que queres
fazer, - disse Bella – se não podes ser o pai dela, deixo-te. Sei que parece
duro, mas… tenho de pensar no que é melhor para ela. Eu amo-te e vou-te amar
sempre, mas não sou só eu agora.
Por um instante, ele achou que não
tinha ouvido bem. Deixá-lo?
Bella saiu para o corredor das
estátuas.
- Vou buscar qualquer coisa para
comer. Não te preocupes com ela… eu já venho.
Fechou a porta ao sair sem fazer
barulho.
Quando a noite caiu duas horas
depois, a forma como a porta se tinha fechado sem ruído ainda martelava na
cabeça de Z.
De pé à frende do armário cheio de
t-shirts pretas e calças de couro e botas, ele vasculhou as suas intenções,
perseguindo-as pelo labirinto das emoções.
Claro que ele queria ultrapassar
as merdas com a filha. Claro que sim. Mas era impossível: o que lhe fizeram
pode ter sido no passado, mas bastava olhar para os pulsos para ver que ainda
estava sujo por tudo… e ele não queria aquelas merdas perto de Nalla. Ele teve
o mesmo problema com Bella no início da relação, e conseguiu superá-las com a
sua shellan, mas com a criança era
pior: Z era a personificação de toda a espécie de crueldade que existia no
mundo. Ele não queria que a filha soubesse que esse tipo de depravação existia,
muito menos expô-la às consequências.
Merda.
Que diabo ia ele fazer quando ela tivesse
idade suficiente e lhe olhasse para a cara e lhe perguntasse porque é que tinha
a cicatriz e como é que ele ficou assim? Que iria ele fazer quando ela quisesse
saber porque é que tinha tatuagens negras na pele? O que iria responder o seu
tio Phury quando lhe perguntasse porque é que não tinha uma perna? Z tirou uma
t-shirt e umas calças, colocou as bainhas das adagas e abriu o armário das
armas. Tirou um par de SIG Sauer
quarenta e inspecionou-as rapidamente.
Estava habituado às nove
milímetros… merda, estava habituado a lutar só com as mãos. No entanto, desde
que Bella entrou na sua vida, tornou-se mais cuidadoso.
E, claro, isto era outra parte da
confusão cerebral. Matar era o seu modo de vida. Era o seu trabalho. Nalla
teria de crescer preocupada com ele todas as noites. Como não? Bella
preocupava-se.
Fechou o armário das armas e
trancou-o, colocou as armas nos coldres, verificou as adagas e pôs o casaco de
cabedal.
Passou os olhos pelo berço onde
Nalla dormia.
Armas. Lâminas. Estrelas de
arremesso. Cristo, a criança precisava de estar rodeada de rocas e ursos de
peluche.
Resumindo e concluindo, ele não
foi feito para ser pai. Nunca foi. Porém, a biologia atirou-o para esse papel,
e agora estavam todos ligados ao passado dele: da mesma maneira que não
conseguia imaginar a vida sem Bella, também não conseguia conceber ser o pai
que Nalla merecia.
Com uma careta, visualizou a festa
de apresentação à sociedade de Nalla, uma coisa por que passam todas as fêmeas
da glymera um ano depois da
transição. A filha tem sempre a primeira dança com o pai, e ele viu Nalla com
um vaporoso vestido vermelho, o cabelo multicolorido bem penteado, rubis no
pescoço… e ele com a sua cara fodida e as marcas de escravo a espreitar por
baixo das mangas do smoking.
Que linda imagem.
A praguejar, Z foi à casa de banho
onde Bella se estava a preparar para a noite. Ia dizer-lhe que estava de saída
para seguir uma pista da noite anterior e que mal acabasse, vinha para casa
para conversarem. Mas ao vê-la estacou.
No nevoeiro deixado pelo chuveiro,
Bella secava o corpo. O cabelo envolvido numa toalha, o longo pescoço exposto,
os ombros cremosos a mexer enquanto limpava as costas, os seios a balançar,
prendendo-lhe os olhos, provocando-lhe uma ereção.
Merda para ele, mas quando a
olhava, só conseguia pensar em sexo. Deus, ela era linda. Tinha gostado dela
redonda da gravidez e também gostava dela como estava agora. Tinha emagrecido
rapidamente depois do nascimento de Nalla, o estômago liso como dantes, as
ancas a ganhar os seus contornos elegantes. Os peitos eram maiores, os mamilos
de um rosa mais escuro e as auréolas mais pesadas.
O pénis atirou-se às calças como
um criminoso a querer sair da prisão.
Enquanto se arranjava, ele
apercebeu-se que não tinham estado juntos desde muito antes do nascimento. A
gravidez foi complicada e depois Bella precisava de tempo para se curar e tinha
estado muito ocupada a tomar conta da criança.
Tinha saudades dela. Queria-a. Achava
que ela ainda era a fêmea mais espetacular e excitante à face da Terra.
Bella deixou o robe no armário,
olhou para o espelho e mirou-se. De cara franzida, inclinou-se e examinou as
maçãs do rosto, o maxilar, por baixo do queixo. Endireitando-se, franziu o
sobrolho e virou-se de lado, encolhendo a barriga.
Ele tossiu para a chamar a
atenção.
- Vou sair.
Ao ouvir-lhe a voz, Bella
apressou-se a pôr o robe. Vestindo-o rapidamente, atou-o e puxou as abas para
cima.
- Não sabia que estavas aí.
Bem… - a ereção murchou… - Estou.
- Vais sair? – Perguntou a soltar
o cabelo.
Nem tinha ouvido o que disse,
pensou ele.
- Sim, vou sair agora. Mas estou
contactável, como sempre…
- Não te preocupes. – Dobrou-se e
começou a esfregar o cabelo para o secar, o barulho da toalha muito alto para
os ouvidos dele.
Apesar de estar ali perto, não
conseguia alcançá-la. Não podia perguntar-lhe porque é que se escondia dele. Tinha
demasiado medo da resposta.
- Tem uma boa noite. – Disse
bruscamente. Esperou uns instantes a rezar para que ela olhasse para ele, lhe
sorrisse um bocadinho, lhe desse um beijo antes de ir para a guerra.
- Tu também. – Virou a cabeça para
cima e foi buscar o secador. – Tem cuidado.
- Sim.
Bella ligou o secador e pegou numa
escova para parecer ocupada enquanto Z se voltava e saía. Quando teve a certeza
que ele tinha saído, parou de disfarçar, desligou o secador e deixou-o cair na
bancada de mármore.
O coração doía-lhe tanto, estava
enjoada, e ao olhar fixamente para o seu reflexo queria atirar qualquer coisa
ao espelho.
Os dois não estavam juntos, mesmo
juntos, desde… Deus, há quatro ou cinco meses, antes de ter começado a sangrar.
Ele já não pensava nela
sexualmente. Não desde que Nalla apareceu. Era como se o nascimento tivesse
desligado essa parte do relacionamento. Agora, quando lhe tocava, era como um
irmão, gentil, compreensivo.
Nunca com paixão.
Primeiro pensou que se calhar era
por não estar tão magra como dantes, mas nestas últimas quatro semanas o corpo
voltou ao que era.
Pelo menos, ela pensou que
tivesse. Talvez estivesse enganada.
Abrindo o robe, abriu-o, virou-se
de lado e mediu a barriga. Quando o pai era vivo, quando ela ainda estava a
crescer, foi-lhe incutida a importância das fêmeas da glymera serem magras e mesmo depois da morte dele há muitos anos,
aqueles avisos de ser gorda, permaneceram.
Bella voltou a vestir-se e a atar
o robe com força.
Sim, ela queria que Nalla tivesse
o pai, e essa era a sua principal preocupação. Mas ela sentia falta do seu hellren. A gravidez foi tão repentina
que não tiveram oportunidade de aproveitar um período de namoro em que tiravam
prazer da companhia um do outro.
Quando pegou no secador e o ligou
outra vez, tentou não contar os dias desde a última vez que ele a procurou como
macho. Tinha sido há tanto tempo que ele a procurou entre os lençóis com
aquelas grandes e quentes mãos e a acordou com os lábios na nuca e uma grande
ereção a pressionar-lhe as ancas.
Ela também não o procurou, é
verdade. Mas ela não tomava como garantida a receção que teria. A última coisa
de que precisava agora era ser rejeitada por ele não se sentir atraído por ela.
Já estava num caos emocional como mãe, obrigada. Falhar na vertente feminina
era demais.
Quando o cabelo estava seco,
deu-lhe uma rápida escovadela e saiu para ver Nalla. Por cima do berço, a olhar
para a filha, não conseguia acreditar que tudo tinha acabado em ultimatos. Ela
sempre soube que Z, depois do que passou, iria continuar a ter problemas, mas
nunca lhe ocorreu que não conseguiriam ultrapassar o passado.
O amor deles parecia ser daqueles capazes
de aguentar tudo.
Se calhar não era.
Heeeeeee, tadinha da Bella…. Heeeeeee tadinho do meu Z….