Não estava com condições mentais para usar o computador.
Mas hoje voltei.
Continuação da parte da história do Wrath em "Na Sombra da Vingança".
============================== Spoilers (ou não) ==============================
Capitulo 12 (2ª parte)
- Responde-me apenas a
uma coisa. – disse ela. – Uma única coisa. É melhor que me digas a verdade, ou
que Deus me ajude, vou… - levou a mão à boca, prendendo um leve soluço com a
mão débil. – Honestamente, Wrath… Sinceramente, pensas que eu te impediria? No
fundo do teu coração, acreditaste verdadeiramente que eu o fizesse?
Ele engoliu em seco enquanto ela pronunciava as palavras
numa voz estrangulada.
Wrath respirou fundo. No decurso da sua vida, tinha sido
ferido muitas, muitas vezes. Mas nada, nenhuma ferida alguma vez infligida à
sua pessoa lhe tinha doído tanto como a dor que sentiu ao responder-lhe.
- Não. – Voltou a respirar fundo. – Não, não acredito…
que fosses impedir-me.
- Quem falou contigo esta noite? Quem foi que te
convenceu a contares-me?
- Vishous.
- Eu devia ter adivinhado. Ele é, provavelmente, a única
pessoa, tirando Tohr, que poderia faze-lo… - Beth cruzou os braços, abraçando-se
a si própria, e ele seria capaz de dar a mão com que empunhava a adaga para ser
ele a abraçá-la. – Andares aí por fora a lutar assusta-me como a merda, mas
esqueces-te de algo… Acasalei-me contigo sem saber que não era suposto que o
Rei estivesse no campo de batalha. Estava preparada para te apoiar ainda que
isso me aterrorizasse… Porque lutar nesta guerra está na tua natureza e no teu
sangue. Idiota… - a voz dela quebrou-se. – Idiota, ter-te-ia deixado fazê-lo.
Mas em troca…
- Beth…
Ela interrompeu-o.
- Lembras-te da noite em que saíste, no princípio do verão?
Quando intervieste para salvar Z e depois ficaste no centro da cidade a lutar
com os outros?
Seguro como o diabo que a recordava, sim. Quando tinha
voltado para casa , tinha-a perseguido pelas escadas e fizeram sexo sobre o
tapete da salinha do segundo andar. Várias vezes. Conservava na lembrança os
calções de ganga que lhe arrancou das ancas.
Jesus… Agora que pensava… Essa tinha sido a última vez
que estiveram juntos.
- Disseste-me que era somente por uma noite. – disse ela.
– Uma noite. Somente. Juraste, e eu confiei em ti.
- Merda, sinto muito.
- Quatro meses. – Ela abanou a cabeça, e o seu magnífico
cabelo negro balançou sobre os ombros, captando a luz de uma maneira tão
formosa que até os seus olhos inúteis registaram o seu esplendor. – Sabes o que
mais me dói? Que os Irmãos soubessem e eu não. Sem aceitei esse assunto da
sociedade secreta, entendi que há coisas que não posso saber…
- Eles também não sabiam. – Bem, Butch sabia, as não
havia razão para o expor. – V soube esta noite.
Ela cambaleou e encostou-se contra uma das paredes azul
pálido.
- Saíste sozinho?
- Sim. – Estendeu a mão para lhe tocar no braço,
mas ela afastou-o.
- Beth…
Abriu a porta de rompante.
Não me toques…
A porta fechou-se de um só golpe atrás dela.
A raiva contra si próprio fez com que Wrath se voltasse e
ficasse de frente para o seu escritório e, no instante em que viu todos os
documentos, todas as solicitações, todas as queixas, todos os problemas, foi como
se alguém tivesse ligado dois cabos elétricos cortados às suas omoplatas e lhe
dessem uma descarga.
Lançou-se para a frente, varreu com os braços a superfície
da secretária e fez voar toda aquela merda pela sala.
Enquanto os papéis voavam em todas as direções, caindo
como neve, ele tirou os óculos de sol e esfregou os olhos. – a dor de cabeça
trespassava-lhe o lóbulo frontal. Ficou sem folego, cambaleou, encontrou a sua
cadeira pelo tato e atirou-se sobre a maldita coisa. Com um áspero grunhido,
deixou que a cabeça caísse para trás. Ultimamente, aquelas enxaquecas por causa
do stresse estavam a converter-se num acontecimento diário, aniquilando-o e
prolongando-se como uma gripe que se recusa a ser erradicada.
Beth. A sua Beth…
Quando ouviu bater à porta, deixou escapar da boca a palavra
F.
A pancada voltou a fazer-se ouvir.
- O que é? – Ladrou.
A cabeça de Rhage apareceu através de uma fresta e depois
ficou imóvel.
- Ah…
- O que é?
- Sim, bem… Ah, a avaliar pelo bater da porta, caramba, o
forte vento que evidentemente acabou de passar pelo teu escritório. Continuas a
querer reunir-te connosco?
Oh Deus… Como seria capaz de manter outra daquelas
conversas. Mas, por outro lado, talvez devesse ter pensado nisso antes de
decidir mentir aos seres mais próximos e mais queridos.
- Meu senhor? – A voz de Rhage adquiriu um tom gentil. –
Desejas ver a Irmandade?
«Não.» - Sim.
- Queres o Phury em alta voz ao telefone?
- Sim. Escuta, não quero os rapazes nesta reunião. Blay,
John e Qhuinn… Não estão convidados.
Já calculava. E que tal se eu te ajudar a limpar?
Wrath olhou para o tapete
coberto de papéis.
- Eu encarrego-me disso.
Hollywood provou a sua inteligência ao não voltar a
oferecer-se, nem tão-pouco sair com um «tens a certeza?». Simplesmente saiu e
fechou a porta.
Do outro lado, o relógio de pé que estava a um canto deu
as badaladas. Era outro som familiar que geralmente Wrath não ouvia, mas que
agora, enquanto permanecia sentado sozinho no escritório, fazia soar as
badaladas como se fossem emitidas através de altifalantes de concerto.
Deixou as mãos pousarem sobre os braços da frágil cadeira
giratória, mas estas caíram para os lados. A peça de mobiliário era mais do
estilo de algo que uma fêmea usaria ao final da noite para apoiar o pé e tirar
as meias. Não era um trono. Era por essa razão que ele a usava. Não quis
aceitar a coroa por muitos motivos, tinha sido Rei por direito de nascimento,
não por inclinação, e em trezentos anos não o tinha assumido. Mas, logo que
Beth chegou, as coisas mudaram e finalmente tinha ido ver a Virgem Escrivã.
Isso acontecera há dois anos atrás. Duas primaveras, dois
verões. Dois outonos e dois invernos.
Naquele tempo tinha grandes planos, no início. Geniais e
maravilhosos planos para unir a Irmandade, para que todos estivessem sob o
mesmo teto, consolidando forças, escorando-se contra a Sociedade dos
Minguantes. Triunfando. Salvando. Reclamando.
Em vez disso, a glymera
fora chacinada. Havia mais civis mortos. E havia ainda menos Irmãos. Não tinham
progredido. Tinham perdido terreno.
A cabeça de Rhage apareceu outra vez.
- Ainda estamos aqui fora.
- Maldito sejas, eu disse que precisava de algum…
O relógio de pé voltou a soar e, enquanto Wrath escutava
a quantidade de badaladas, deu-se conta que já havia passado uma hora desde que
se sentara sozinho. Esfregou os olhos doridos.
- Dá-me outro minuto.
- Tudo o que o meu Senhos necessitar. Leva o tempo que
entenderes.
(…)
Continuação de um bom
domingo.