A noite convidava ao passeio,
depois de parar numa macieira e ter ratado várias maçãs, fiz-me ao céu. A lua
estava espetacular e, ao longe, recortava-se a Mansão da Irmandade. Sorri ao
recordar a última aventura com as shellans.
Via-se luz nalgumas janelas e a curiosidade aumentava quando, ao aproximar-me,
conseguia distinguir vultos: a Mary a despachar o Rhage para fora do quarto; o
Vishous a fumar à janela; o Wrath a bufar à frente de uma pilha de papéis. Dei
a volta para espreitar pelas outras janelas. Z beijava Bella à porta do quarto,
vestido para sair; o Qhuinn a fingir que iniciava um strip só para ver o Blay a
gaguejar ao telemóvel; o Fritz a entregar uma bandeja à Marissa, enquanto Butch
se vestia; a Xhex a discutir com um John a gesticular a alta velocidade.
Parecia tudo calmo e tranquilo.
Mais uma volta e vejo um automóvel, aliás, uma carrinha a vir na direção da
casa. Tinha vidros fumados, não se via quem lá estava dentro e a matrícula
era-me desconhecida. Pendurei-me num galho e aguardei. O veículo estacionou na
porta da frente. Abre-se a porta do condutor e sai o Phury… Ahh… que os
anónimos lhe estão a fazer tão bem… das outras portas começam a sair Escolhidas
que nunca mais acabavam.
- Últimas indicações: quero olhos
abertos e ouvidos atentos! – Phury falava calmamente, mas com firmeza. As
Escolhidas ouviam. – Hoje será a oportunidade de conhecerem de perto a vida na
mansão do nosso Rei. Algumas de vós já cá estiveram, mas a experiência de hoje
será muito diferente.
Acenaram com a cabeça ao mesmo
tempo. Cruzes! Estão bem treinadas!
Misturei-me nas saias de uma –
panorama magnífico de uns glúteos masculinos redondos e firmes. – he he he – e entrei com eles. Mal a
porta se abre, ouvi a voz do Butch a perguntar:
- Caralho! Tu dás conta do recado
a essas todas, Phury?
- Senhor, o que é “caralho”? –
Questiona uma Escolhida.
- E de que recado fala o guerreiro
Butch, Senhor? – Questiona outra.
- Sim, Phury, explica que eu quero
ouvir. – V já tinha fumado o que tinha a fumar e também já ali estava.
- E eu também quero ouvir… - era o
Rhage que aparecia com uma sanduíche do tamanho de um boi e que, pelo que
conseguia ver, devia ter mesmo um lá dentro. – Isto vai ser tão bom… - e ria-se
como um alarve a ver-se a alface no meio dos dentes.
Phury tossiu.
- Meus Irmãos, o Wrath não vos
informou de nada?
Eles olharam uns para os outros e
abanaram a cabeça.
- Eu informo-os agora. – Wrath, no
topo das escadas, tomou a palavra – Meus Irmãos, hoje, cada um de vocês os três
vai ficar responsável por um grupo de Escolhidas e fazer uma visita guiada à
mansão. – Ao ver a cara de pânico deles, acrescenta – e sim, vão-lhe responder
ao caralho das perguntas todas e mostrar que ainda vos sobra um pingo de boa
educação. O Phury vai sair com a Cormia e só regressa no final da semana. O
responsável por elas sou eu e o primeiro que piar ou cometer uma argolada vai
passar o resto da existência a responder a cartas por mim.
- Só vem daqui a dois dias?! –
Quis confirmar Rhage.
- Nem que fosse daqui a dois
meses. E acabou a puta da conversa. – Wrath dá meia volta e desaparece.
- Guerreiro, - pergunta uma
Escolhida a Vishous – o que é “puta”?
- Sim, V, explica que eu quero
ouvir. – Dizia o Phury já a caminho da porta da rua. – Boa noite, Irmãos.
Escolhidas, fiquem bem.
Nem sei como contar o que
aconteceu nessa noite. Vishous aterrorizou de tal maneira o grupo dele que as
coitadas nem abriam a boca. Tentou subornar o Blay para as acompanhar, mas ele
não caiu na esparrela. Resolveu não perguntar nada ao Qhuinn, não fosse o Irmão
zangar-se. As do Butch acabaram a noite a falar como taberneiras. O polícia apelou
ao coração de Z e ele, com a filha às costas, complementou-lhes o estudo da
linguagem. As do Rhage estavam animadas, a Mary e a Beth tomaram conta delas,
passaram toda a tarde a ver filmes parvos e a falar sobre as vantagens de não
ser macho e a comer chocolates.
Para acabar a noite em beleza,
juntaram-se numa salinha, já com a Jane e a Bella. Era a hora do chá e dos
bolinhos. – Esta rotina já eu conhecia.
- Porque é que aquelas estão a
olhar para nós como se as fossemos comer? – Pergunta Jane admirada.
- Porque o teu maravilhoso hellren esteve a explicar-lhes as
vantagens de adquirir um conjunto completo de chicotes, mordaças e derivados. –
Respondeu Beth a esconder a vontade de rir.
- Não posso…
- Podes, podes. – Completou Mary -
E vais ouvir o resto. Se isso não chegasse, apareceu o Qhuinn furioso não sei
com o quê e ele teve um ataque histérico e fez explodir a saleta do segundo
andar. Com elas lá dentro.
- Coitadas… Mas não há problema.
Bella, posso falar contigo? – E Jane segredou qualquer coisa ao ouvido da shellan do Z, deixando-a a rir às
gargalhadas.
Estava a amanhecer, foi tudo para
a cama e, como já era tarde para voltar para a gruta, dormi dentro de um jarrão
no corredor das estátuas. Ouvi barulho durante o dia, havia movimentações na
casa, mas eu não conseguia abrir os olhos. Acordo, finalmente, com um uivo
terrível! Vishous! Era o Vishous!
Saio disparada em direção ao
quarto dele. Os uivos continuavam, faziam gelar o sangue. Ó meu Deus, ó meu
Deus, ó meu Deus. Entro no quarto e desato-me a rir. Ele estava encolhido a um
canto cheio de medo. Em cima da cama, vestida de cor-de-rosa, estava a Nalla,
sentada e a brincar com um peluche. Na parede havia um cartaz enorme que dizia:
Tio Vishous, toma conta de mim. Não te esqueças de me mudar a fralda e de me
preparar o leite. Não há mais ninguém na mansão e o meu pai diz que te corta o
que ainda tens se, quando vier, eu não estiver feliz e satisfeita.