Estou naquela fase da minha vida
em que não distingo o fim de semana dos restantes dias.
Algo de muito errado se está a
passar.
Julgo chamar-se cansaço.
Encomendei um caixão na
sexta-feira e estou prestes a inaugurá-lo: vou dar uma festa com comes e bebes
(mais bebes que comes), música e fogo-de-artifício. Ao menos haja diversão no
funeral, porque para lamentações basta-nos a existência!
E digo-vos, se me tombar, vou
apanhar uma borracheira fenomenal! E está tudo convidado!
Sim, sim, estou meia depressiva. E
a delícia de pensar num descanso eterno como a quem sai o euromilhões não abona
a meu favor.
Ainda tinha esperanças de ser
visitada por um macho que me distraísse, mas a coisa não correu bem e o
trabalho agarrou-se a mim como uma lapa. Eu bem que o tentei enxotar, mas
aquilo é persistente.
Quanto aos machos… Nadinha.
Népias. Zero. Nicles batatóides.
Que desilusão!
Anda um morcego da fruta a pensar
que ser vampiro chupa-sangue é o que está a dar, que são muito vivaços e
dinâmicos…
Burrinha!
A minha gruta parecia um cemitério
abandonado. Nem uma alminha penada veio ter comigo para me convidar a sair. Nem
um zombinho com planos de me arrancar à papelada! E eu a sonhar com vampiraços! Nem os mortos quiseram saber de mim,
quanto mais os de sangue na guelra…
Ai, ai!
Minha gente, é segunda-feira.
As minhas férias tardam em
aparecer (são como os machos jeitosos –
precisamos de um e … pois!...)
Espero que gostem do que vos
trouxe!
Beijos bons.
SPOILERS__________SPOILERS
Lover at Last
Bum!
Quando no quarto se ouviu o barulho ensurdecedor, o primeiro pensamento de Qhuinn foi o de atirar-se para
cima das fêmeas para as escudar.
Mas não era uma bomba. Era o Phury
a atirar com a porta para trás.
Os olhos amarelos do Irmão brilhavam,
mas não de uma forma agradável, indo de Layla para a Dr Jane para o Qhuinn… e
voltando à primeira.
- Que diabo se está a passar? –
Exigiu, as narinas dilatadas a apanhar o mesmo aroma de Qhuinn. – Vejo a médica
a correr como louca escadas acima. Depois o Qhuinn com a mala dela. E agora… acho
bem que alguém comece a falar. Já.
Mas ele já sabia. Porque estava a
olhar para o Qhuinn.
Qhuinn enfrentou o Irmão.
- Eu engravidei-a…
Não teve oportunidade de acabar a
frase. Na realidade, quase não conseguiu pronunciar a segunda palavra.
O Irmão agarrou-o e atirou-o
contra a parede. Enquanto as costas absorviam o impacto, o maxilar explodiu de
dor – o que sugeria que o tipo lhe tinha acertado com um murro dos bons. A
seguir, umas mãos brutas prenderam-no com os pés a abanar a quinze centímetros
do belo tapete oriental – exatamente quando começou a aparecer gente a
fazer fila à porta.
Bonito. Assistência.
Phury encostou a cara à de Qhuinn
e mostrou-lhe as presas.
- Tu fizeste o quê?
Qhuinn engoliu uma boca cheia de
sangue.
- Ela passou pela necessidade e eu
servi-a.
- Tu não a mereces.
- Eu sei.
Phury bateu com ele outra vez.
- Ela é melhor do que isto.
- Concordo.
Bang! Outra vez na parede.
- Então porque caralho o fizeste?
[Qhuinn é salvo pela Layla que
discute com Phury]
- Foi por isso que o Havers me
telefonou ontem à noite?
Layla assentiu.
- Fui lá para me ajudarem.
- Porque é que não vieste ter
comigo? – Murmurou o Irmão para si próprio.
– O que é que o Havers disse?
- Não sei, não ouvi o voice mail.
Pensei que não tinha motivos para o fazer.
- Ele disse-me que só trataria do
caso contigo.
Aí, Phury olhou para Qhuinn, os
olhos amarelos a semicerrarem-se.
- Vais acasalar com ela?
- Não.
A expressão de Phury ficou gelada
outra vez.
- Que caralho de espécie de macho
és tu?
- Ele não está apaixonado por mim,
- cortou Layla. – Nem eu por ele.
Enquanto a cabeça do Primal
girava, Layla continuou:
- Queríamos uma cria. – Ela
sentou-se de frente para a Dr Jane lhe ouvir o coração. – Tudo começou e acabou
aí.
Agora o Irmão praguejava.
- Não percebo.
- Nós somos, de várias formas,
órfãos, - disse a Escolhida. – Nós estamos… estávamos… à procura de uma família
para nós.
Phury suspirou, e foi até à
secretária da esquina, sentando-se pesadamente na cadeira.
- Bem. Ah. Parece que isso muda um
bocado as coisas. Pensei que…
[Phury telefona a Havers como se fosse o pai da cria.]
- Desculpa, - disse Layla a olhar
para cima para o enorme macho. Eu sei que desapontei as Escolhidas e a ti… mas
tu disseste-nos para vir para este lado e… viver.
Phury pôs as mãos nos quadris e
suspirou, era óbvio que não teria escolhido nada daquilo para ela.
- Pois, eu disse isso. Disse,
pois.
[No carro a caminho da clínica]
- Os teus olhos não são o problema,
- disse o Irmão.
- Desculpa?
Phury olhou para ele.
- O eu estar irritado contigo não
tem a ver com nenhum defeito. A Layla está apaixonada por ti…
- Não, não está.
- Estás a ver?, agora estás-me a
irritar.
- Pergunta-lhe.
- Enquanto perde o teu filho? –
Atacou o Irmão. – Sim, é mesmo isso o que vou fazer.
Qhuinn estremeceu, Phury
continuou:
- Olha, sabes o que se passa
contigo? Gostas de viver no limite e ser todo selvagem… francamente, eu acho
que isso te ajuda a ultrapassar as merdas por que a tua família te fez passar.
Se destruíres tudo? Nada te pode magoar. E, quer acredites quer não, eu não
tenho nenhum problema com isso. És o que és e sobrevives às noites e aos dias
como podes. Mas assim que destróis o coração de uma inocente, especialmente uma
que está ao meu cuidado? Aí é quando tu e eu temos problemas.
[Na clínica, atira-se tudo aos pés de Phury]
- Ele já vem, - disse a
enfermeira, a rir-se para Phury e a fazer uma vénia. – Posso trazer-lhe alguma
coisa? Café ou chá?
- Só o médico, - respondeu o
Primal
- Imediatamente, Vossa Excelência.
– Fez outra vénia e saiu apressada.
- Vamos pôr-te aqui em cima, sim?
– Disse Phury do outro lado da cama.
Layla abanou a cabeça:
- Tens a certeza que estamos no
sítio certo?
[Havers chega e Qhuinn ataca-o – atira com ele, parte-lhe os óculos,
encosta-lhe uma faca ao pescoço…]
Layla olha para Phury. O Primal
não estava particularmente incomodado: cruzou os braços sobre o peito enorme e
encostou-se à parede à beira dela, era óbvio que estava absolutamente à vontade
com aquilo. Na cadeira do outro lado, a Dr Jane estava igual, o olhar verde
floresta calmo enquanto observava o drama.
- Olha-a nos olhos, - cuspiu
Qhuinn, - e pede desculpa.
Quanto o guerreiro abanou o médico
como se fosse uma boneca de trapos, saíram-lhe bocados de palavras.
Diabo. Layla achava que devia ser
uma dama e que não devia estar a gostar daquilo, mas a vingança trazia satisfação.
Tristeza, também, porque isto não
devia ter chegado àquele ponto.
- Aceitas o pedido de desculpa? – Perguntou
Qhuinn num tom maldoso. – Ou queres vê-lo a arrastar-se? Ficaria mais do que
feliz de o transformar num tapete aos teus pés.
- Já foi suficiente. Obrigada.
- Agora vais-lhe dizer – Qhuinn
voltou a abaná-lo, os braços do Havers a baloiçar, o casaco branco a adejar como
uma bandeira – e só a ela, que
caralho se está a passar com o corpo dela.
(…)
- Começa a falar, doutor. E se o
Primal, com quem estás tão impressionado, tiver a amabilidade de me dizer se
tiras os olhos dela, seria estupendo.
- O prazer será meu, - disse
Phury.
[Havers diz a Layla o que se passa e Qhuinn começa a fazer perguntas.]
- É o guardião dela? – Perguntou
Havers.
Phury interrompeu.
- É o pai da cria dela. Por isso
trate-o com o mesmo respeito com que me trataria a mim.
Gostaram?
Queriam mais?
Vou pensar no vosso caso...