Lover at Last




Sabem aqueles dias em que quase não param, que andam a voar de um lado para o outro, fazem três milhões de coisas, desengatam tudo quanto é chatice dos outros, viram-se para todos os lados e acodem a tudo ao mesmo tempo? Aqueles dias que, ao chegar ao fim, dizemos: estou exausta, não me aguento em pé, preciso de um galho para me pendurar? Aqueles dias em que, vendo bem, não fizeram nada, está ainda tudo por fazer, porque se fez tanta coisa, mas o que tinham para aquele dia ficou para trás?

Isso foi o meu dia de ontem.

Com agravantes.

Depois do almoço, fui chamada ao gabinete da Comissão Executiva do Blogue. Por trás da secretária, uma Nasan furibunda fervia de raiva. Mal me vê entrar, rosna e diz que sou uma incompetente e se, ha ha ha (riso malévolo) gosto tanto de capas plásticas para enfiar folhas, que levasse aquelas para ficar consolada – atira-me com umas boas dezenas de micas para cima da mesa. Ai, ai, ai não é bem assim, disse eu. Ai, ai, ai que é sim senhor, disse ela.  Ai, ai, ai que eu afufalho-te e faço-te uma declaração amorosa ainda hoje. E não fiz nadinha… Hoje vai-me pôr uns patins que não há de ser brincadeira…

No final do dia, saio em busca da minha Micas. Xô, xô morcego, disse ela. Ui, ui, ui, exclamo eu. Desaparece que não estou para te aturar, rosna ela. Buu-uu-uu, chorei eu. Ha ha ha (riso malévolo) vai assoar o nariz que metes dó, disse ela. E eu não disse mais nada.

Triste e de coração nas mãos, agarro num tubo de colinha para ver se o compunha. Por volta da uma da manhã fui para o galho. Não consertei o coração, não terminei o que queria, fiquei desiludida com a minha existência morcegueira.

Às cinco da manhã pus-me a pé: a cria tinha desabelhado do galho e esvoaçava pela gruta.

As pestanas não querem descolar. O coração não colou. E eu vou-me calar.

Beijos bons.

SPOILERS PARA ALGUNS
Lover at Last


- És uma pessoa impecável, Qhuinn, sabias?
O coração de Qhuinn parou e depois bateu com mais força. Esta era a expressão que o pai usava sempre para descrever cavalheiros… era a nota mais alta dos cumprimentos, o topo da lista, o equivalente a um grande abraço, ou um bater de mãos para um tipo comum.
- Obrigado, meu, - disse roucamente. – Tu também.
- Como é que podes dizer isso? – Luchas clareou a garganta. – Como, em nome da Virgem Escrivã, podes dizer isso?
Qhuinn respirou fundo.
- Queres saber? Eu digo-te. Tu eras o preferido. Eu era a maldição – estávamos em lados opostos da escala da família. Mas nenhum de nós teve uma oportunidade. Tu não tinhas mais liberdade do que eu. Tu não tinhas opção em relação ao futuro – ele estava predeterminado desde o nascimento e, de certa forma… os meus olhos? Foram a minha fuga da prisão, porque significavam que ele não queria saber de mim. Se me chateou? Muito, mas pelo menos consegui decidir o que queria fazer e para onde queria ir. Tu… tu nunca tiveste a merda de uma oportunidade. Não eras mais que uma equação matemática resolvida quando foste concebido, todas as respostas eram conhecidas.
Luchas fechou os olhos novamente e estremeceu.
- Estou sempre a ver tudo na minha cabeça. Todos aqueles anos em que estava a crescer, desde a minha primeira memória… até à última coisa que vi naquela noite em que… - Tossiu um pouco, como se o peito lhe doesse, ou talvez o ritmo cardíaco tivesse falhado. – Eu odiava-o. Sabias?
- Não. Mas não posso dizer que me tenhas surpreendido.
- Não quero regressar àquela casa outra vez.
- Então não regresses. Mas se quiseres… eu vou contigo.
Luchas abriu os olhos uma vez mais.
- A sério?
Qhuinn acenou com a cabeça. Apesar de não estar ansioso em percorrer aquelas divisões nem dançar com os fantasmas do passado, ele iria se Luchas fosse.
Dois sobreviventes de regresso à cena dos crimes que os definia.
- Sim. A sério.
Luchas sorriu um pouco, uma expressão nem de perto semelhante à que costumava ter. E não fazia mal. Qhuinn gostava mais desta. Era honesta. Frágil, mas honesta.
- Eu venho ver-te mais logo, - disse Qhuinn.
- Isso seria… muito bom.


Tão lindo…
Eu sou tão estúpida…
Ele é tão lindo…

Mim está com cara de parva, olho brilhante de estrelinhas e a fazer biquinho…
O coisa ruim só sabe ser fixe se ninguém estiver a ver…

Odeio-o.

Ai, que nem para mentir tenho jeito!


Vou para o galho. O meu mal é sono.

2 comentários:

Viv disse...

Tão fofinho! Adorei! *.*

Espero que consigas descansar Morceguita, cansaço a mais faz mal...

Bea disse...

Ele é tao querido. Quem diria que ele e o irmao se iriam dar bem.
E morceguinho não ligues a elas te tratarem mal, tens mais gente que gosta de ti

 

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