Beijo de Sangue Cap.27

Olá pessoal!!!

Vamos saltar mais um bocado!

Vamos aos avisos habituais que a NightShade deixou!


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Aviso 

O blog informa que a tradução deste livro é feita por fãs para fãs, não vamos publicar o livro na íntegra, só alguns capítulos com o objectivo de oferecer aos leitores algum acesso ao enredo desta obra para motivar à compra do livro físico ou e-book.

A tradução é feita somente em livros sem previsão de lançamento em Portugal, para preservar os direitos de autor e contratuais, no momento em que uma data seja estabelecida por qualquer editora portuguesa na publicação deste livro, os capítulos traduzidos serão imediatamente retirados do blog.

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Capítulo 27

Três horas depois, Craeg estava no banco do passageiro da frente de um Hummer. Quase a inclinar-se para fora dele, seria mais adequado: Enquanto Butch o conduzia com Axe para fora do parque de estacionamento subterrâneo do centro de treinos, Craeg estava inclinado para o pára-brisas, tentando perceber a paisagem estranhamente desfocada.

- Temos mau tempo? - Perguntou Axe lá de trás.

- Não. - Respondeu o Irmão, enquanto se aproximavam de um enorme e elaborado sistema de portões que parecia saído do Jurassic Park, todo em betão com seis metros de altura, com enormes barras de metal e barricadas que deviam ter electricidade a passar por elas.

Sim, porque os Irmãos já tinham provado como gostavam de brincar com aquela merda que dá choques.

Craeg abanou a cabeça.

- Vocês não andam a brincar com a segurança, pois não?

- Nope.

À medida que avançavam pelo território densamente arborizado, iam chegando a uma série de pontos de paragem que se tornavam cada vez menos extravagantes e obstrutivos. O último era pouco mais do que algo que se encontraria numa quinta abandonada, uma coisa «velha» e frágil que acabou por ser deliberadamente construída para parecer assim.

Muito inteligente.

Quando Butch finalmente saiu de uma clareira e virou à esquerda para uma estrada pavimentada, o bizarro borrão da paisagem resolveu-se magicamente. Mas era estranho, os olhos de Craeg ajustavam-se facilmente, mas a sua orientação não. Estavam a ir para oeste? Para leste?

- Sabes onde eu moro, claro. - Resmungou Axe.

Butch lançou um olhar seco para o espelho retrovisor.

- Não, de todo.

A viagem até onde quer que fosse demorou cerca de quarenta e cinco minutos, e tudo o que Craeg conseguiu com a viagem foi perceber o pouco que sabia sobre Caldwell. Tendo passado a sua vida pré-trans em casa com a mãe, não tinha tido oportunidade de sair muito depois da sua transição - porque os ataques tinham acontecido apenas seis meses depois. E depois da carnificina, depois de ter assistido à morte da mãe e da irmã e de ter sabido em primeira mão da morte do pai, ele passou por um período de loucura intensa... e depois instalou-se num horário de trabalho entorpecido que pagava as contas e lhe permitiu encontrar um abrigo longe da casa dos pais.

Não voltava lá desde que limpara tudo e enterrara as fêmeas da sua linhagem juntamente com os restos mortais do seu pai - que trouxera da casa dos aristocratas.

Deus, o pai dele. Ele adorava-o, e descobrir que um homem de tal valor tinha morrido porque um bando de tipos da glymera o tinham trancado a ele e a todos os outros criados e trabalhadores do lado de fora da sala de segurança. E as pessoas ainda perguntavam porque é que ele odiava aqueles bastardos ricos.

- Queres que esperemos aqui, Axe? - Perguntou Butch. 

Craeg virou a cabeça e viu que tinham parado em frente de... Era a merda da casa de Hansel e Gretel. Foi a única comparação que conseguiu fazer. À luz dos faróis do Hummer, a casa de campo era tão pitoresca como um postal, toda caiada de branco com um telhado alto e um trabalho em madeira sob os beirais que era tão intrincado como a renda.

- Tu - disse Craeg. - Cresceste naquela casa?

- Sim. - Axe abriu a porta. - Qual é o problema?

- Que se lixe, vamos contigo. - Anunciou Butch enquanto desligava o motor. - Principalmente porque quero ver o interior da tua casa.

Craeg ia ficar no jipe, mas depois pensou:

- É isso mesmo, que se lixe. 

O que mais é que ele tinha para fazer com o seu tempo?

Axe levou-os até uma porta lateral que abriu com uma chave de cobre. Quando entrou, ouviu-se o som de um alarme, mas não durou muito, porque ele desligou tudo num teclado montado na parede.

Quando o tipo acendeu as luzes, tudo o que Craeg conseguiu fazer foi pestanejar admirado.

- Santa Maria, mãe de... - murmurou Butch.

- Ele pensou que ela ia voltar, okay? - Axe resmungou enquanto atirava as chaves para cima de um bloco de talho espectacular. - Ele fez isto para a minha mãe.

Craeg nunca tinha visto tantas rosas vermelhas e cor-de-rosa na sua vida: As paredes da pitoresca cozinha estavam cobertas do chão ao tecto com um papel dominado pelas flores e pela videira verde onde aparentemente cresciam. E quem diria, os cortinados na alcova e à volta da janela sobre o lava-loiça tinham exactamente o mesmo padrão.

- Vocês ficam aqui em baixo, - murmurou Axe. - Eu trato da merda do meu saco sozinho.

Os passos pesados do tipo soaram pela casa, o trovão a subir até ao primeiro andar e depois a andar por cima da cabeça deles.

- Olha para este trabalho em madeira - disse Butch, enquanto passava a mão sobre o molde esculpido em torno de uma das ombreiras da porta. - Incrível.

Craeg foi até à mesa esculpida e sentou-se numa cadeira delicada que o fez desejar não ter comido tanto na Primeira Refeição. Olhando para todo o trabalho nas sancas e portas, nos armários, até nos peitoris das janelas, por amor à santa, descobriu que tudo formava um padrão orgânico que ecoava as videiras do papel de parede, contorcendo-se e girando com elegância e beleza em torno de acessórios e entradas/saídas. Envernizado com uma camada transparente, o ácer ou o pinho, ou o que quer que fosse, brilhava como só uma madeira que tivesse sido finamente trabalhada poderia brilhar.

- O resto das divisões têm de ser assim - disse Butch enquanto se inclinava para fora da cozinha. - Isto é uma obra-prima...

Axe reapareceu com um saco preto e uma mochila.

- Passemos à próxima...

- Foi o teu pai que fez este trabalho todo em madeira? - Perguntou Butch.

- Sim, foi.

- Ele era muito mais do que um zé-ninguém.

- Podemos ir agora?

- Espera - interrompeu Craeg. - O teu pai era carpinteiro? O meu assentava soalhos.

- Ah, sim?

Houve uma pausa enquanto os dois se olhavam fixamente.

- Ele morreu em Endelview? - Craeg disse, nomeando a propriedade que tinha sido invadida naquela noite horrível.

A expressão sombria de Axe tornou-se negra como breu, de uma forma que fez com que as suas tatuagens parecessem sinistras.

- Sim.

- O meu também.

Craeg olhou para o rosto do macho, perguntando-se o quanto ele sabia sobre o que tinha acontecido ali. Merda... era horrível perceber que ele tinha manuseado o corpo do pai do gajo. Foi outra pessoa que fez as notificações aos membros sobreviventes da família, e quando o fez, ele já tinha acabado.

- Noite má.

- Sim. - Axe limpou a garganta e desviou o olhar. - Então, podemos ir?

- Não - interrompeu Craeg. - Vocês ficam aqui enquanto eu vou para minha casa. Eu volto já com o meu equipamento.

- Então, não vais trazer muito. - Disse Axe.

Craeg pôs-se de pé e dirigiu-se novamente para a porta.

- Não tenho muito.

O Irmão chamou-o assim que ele pôs um pé na varanda das traseiras.

- Se não voltares para aqui dentro de vinte minutos, estás fora do programa.

- Eu sei - murmurou ele. - Eu sei.

***

Quando o autocarro parou, Paradise pegou na sua mochila e preparou-se para sair da sua fila.

- Então, vens para minha casa? - Peyton perguntou enquanto se levantava. - Ainda temos duas horas, pelo menos, e o Anslam vem fazer companhia.

Baixando a cabeça para que ele não visse o rubor no seu rosto, ela fingiu procurar o telemóvel, embora soubesse onde estava, no bolso da sua parka.

- Quero estar em casa quando o meu pai chegar.

- E isso seria de madrugada. -  Apontou ele enquanto punha os óculos de lentes escuras. - Daqui a duas horas.

Está bem, está bem, mas fosse qual fosse a hora, ela não ia admitir o facto de que tudo o que queria fazer era ver os ponteiros do relógio na sua mesa-de-cabeceira a dar a volta até que o grande estivesse no doze e o pequeno no sete.

- Desculpa, tenho coisas para fazer. Telefonas-me? - Merda, ela não queria mesmo que ele ligasse, não hoje. - Quero dizer...

- Não faz mal. - Peyton virou-se para Anslam. - Estás pronto para uns bongos?

O outro homem lançou-lhe um sorriso sarcástico.

- Sempre e para sempre.

Quando os dois desceram do autocarro, ela abanou a cabeça e saiu do seu lugar. Algumas coisas tinham voltado ao normal - e era engraçado, com todo o stress do treino, ela não podia culpar Peyton por querer uma fuga que soubesse bem. Talvez fosse isso que ela estava a fazer com Craeg?

Por falar em vícios.

A forma como se sentia ao pé daquele macho, quando ele olhava para ela, a tocava, a beijava, era tão espantosa, que ela conseguia ver-se viciada no zumbido - tal como toda aquela coisa de contar as horas. O problema com tudo isso, no entanto, era que ele não era algo que pudesse ser comprado e consumido como erva, ou gelado, ou vinho. Ele era uma entidade separada e independente, e era engraçado, o facto de ele ter escolhido estar com ela, mesmo sendo através do telefone, fazer parte desse efeito.

Ele estava a escolhê-la. De todas as pessoas do planeta...

Paradise parou no meio do corredor. Alguma coisa tinha caído no chão e ela apanhou-a com um olhar de reprovação. Era uma fotografia, uma Polaroid à moda antiga, daquelas com um quadrado brilhante no centro e uma parte branca mate que era pequena em três lados e grande na parte de baixo, para que a pudéssemos segurar e escrever nela.

A imagem estava tão desfocada que era indecifrável, algo vermelho e cor-de-rosa com riscas.

- Peyton, a sério. - Murmurou ela.

Só Deus sabia o que ele fazia quando estava pedrado. Ele era conhecido por fazer coisas malucas e psicadélicas e por experimentar coisas muito estranhas - que, claro, ele gostava de lhe contar.

Com a imagem na mão, ela dirigiu-se para a saída, agradeceu ao motorista e abriu a boca para chamar o amigo. Mas ele já se tinha desmaterializado com Anslam, por isso ela pôs a fotografia da colcha dele, ou da carpete, ou do roupão de banho, ou do raio que fosse no bolso.

- Ajudaste o Craeg com o seu pequeno problema? - Disse Novo, vindo das sombras.

Paradise virou-se quando o autocarro partiu, com pedras a estalarem debaixo dos pneus.

- Tu mentiste-me.

- Menti? - A fêmea sorriu à luz fria da lua. - Eu não acho que menti. E eu tinha razão, não tinha? Ele precisava de ti, e só de ti.

Com um rubor, Paradise lembrou-se do corpo de Craeg contra o dela, a sua excitação a pressionar-lhe a barriga. Não é um pequeno problema, pensou para si mesma. Não era mesmo nada pequeno. Era grande, e grosso, e...

- Então? - Novo insistiu.

- Isso não é da tua conta.

- Tão primitivo, tão apropriado. Mas está tudo bem. Ainda bem que se divertiram. É assim que a vida deve ser,  e eu imaginei que vocês não se conseguiriam divertir sem um empurrãozinho.

Paradise teve que rir.

- Tu não pareces ser do tipo casamenteira, Novo.

- Estou a expandir as minhas qualidades. - A fêmea encolheu os ombros fortes por debaixo do casaco de cabedal preto. - É por isso que estamos todos aqui, certo?

Por uma fracção de segundo, Paradise sentiu-se tentada a convidar a fêmea. Na verdade, ela nunca tinha tido uma verdadeira amiga. Na aristocracia, a sua posição social determinava com quem podia ser vista - e Deus sabia que nenhuma das primas com quem tinha tido de fazer conversa de circunstância lhe interessava muito. Além disso, não se podia confiar nelas. Fêmeas como aquelas estavam a competir por um grupo limitado de machos altamente desejados - o que as tornava tão ferozes como um cardume de piranhas.

Era o The Bachelor vezes cem. 

Além disso, Novo sabia sobre Craeg, e isso fez com que Paradise se sentisse menos como se tivesse alguma coisa a esconder - e a fêmea certamente parecia sexual o suficiente para ter tido alguma experiência no departamento da sedução. Talvez muita. Abrindo a boca, Paradise...

Lembrou-se onde vivia.

- Vemo-nos amanhã. - Murmurou ela.

- Não estás chateada comigo, pois não?

- Não, não estou. - Enquanto corava, ficou contente por estar escuro e a copa das árvores cortar a maior parte do luar. - Na verdade, estou um pouco agradecida.

Novo deu-lhe mais um daqueles seus apertos de ombro.

- Tem um bom resto de noite e de dia. Vejo-te amanhã.

Paradise levantou a mão.

- Até amanhã.

Quando ficou sozinha, deixou a cabeça cair para trás e olhou para as estrelas. Depois levou a mochila para o peito, envolveu-a com os braços e desmaterializou-se. Voltando a formar-se no relvado, no exacto local onde esteve na noite anterior, esperava sentir-se um pouco menos estrangeira em território familiar. Mas isso foi um grande e gordo «Não».

Caminhando até à porta da frente, sentiu a mesma distância que sentira na noite anterior. Desta vez, porém, a separação estava ligada a Craeg.

Sabes essa dor que tens agora? A que tens entre as pernas? Vou mostrar-te como tratar disso sozinha. E vais fazer-me vir quando eu ouvir o teu som.

Só a lembrança da voz profunda e rouca dele a dizer aquelas palavras transformou o seu corpo num forno de explosão - ao ponto de ela querer tirar a parka, apesar de estarem quatro graus. E, ao mesmo tempo, olhava para aquelas janelas brilhantes e tinha vontade de vomitar. A ideia de que ia falar ao telefone, e provavelmente acabar nua, enquanto um macho que o seu pai não aprovaria a acompanhava em tudo? No quarto onde tinha crescido? Enquanto o pai dela estava em casa? Não era suposto fêmeas como ela...

- Oh, que se lixe - murmurou enquanto se dirigia para a porta.

A vida era demasiado curta, e Craeg era demasiado escaldante para que ela perdesse tempo a sentir-se culpada quando não estava a fazer nada de errado no esquema geral das coisas. 

Lembra-te, disse a si própria. Decidiste não acasalar. És livre.

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Fiquem bem.

Sunshine ;)


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