Tenho sono.
Quero dormir.
Quero férias!
Quero livros novos.
Queria esganar os da Casa das Letras.
Capítulo Seis
[A primeira parte deste capítulo
podem lê-lo em Na Sombra do Amor. Z
está a ser tratado e pediu a Bella para não o deixar.]
- Estou aqui.
Sim, mas por quanto tempo?
O pânico que sentia agora fê-lo
recordar a noite do parto… tinha estado no terreno com Vishous, a investigar o
rapto de um civil. Quando chegou a chamada da Dr. Jane, deixou V como a um
vício e desmaterializou-se no jardim da mansão, levando tudo à frente desde a
entrada até ao túnel. Todos, shellans,
doggens e até Wrath, saíram-lhe da
frente para não serem transformados em pinos de bowling.
Em baixo, no centro de treinos,
neste mesmo quarto, encontrou Bella deitada na mesma maca onde ele hoje estava.
Entrou a meio de uma contração e teve que assistir ao corpo de Bella a
imobilizar-se como se uma mão gigantesca a estivesse a esmigalhar o ventre.
Quando a dor abrandou, ela inalou profundamente, depois olhou para ele e
ofereceu-lhe um sorriso fraco. Como ela se esticou para ele, arrancou as armas
e deixou-as cair ao chão.
- Mãos. – Ladrou a Dr. Jane. –
Lava as mãos antes de vires para aqui.
Ele acenou com a cabeça e foi
diretamente às pias com os pedais. Ensaboou bem os braços até a pele brilhar
num cor-de-rosa Barbie, enxugou-as com um pano azul cirúrgico e correu para a
beira de Bella.
As mãos tinham-se apenas tocado
quando a contração seguinte a atravessou num rugido. Bella espremeu-lhe a mão
até a partir no aperto, mas ele não se importou.
Sempre a fitá-la enquanto se
debatia, ele teria feito qualquer coisa para lhe tirar as dores… naquele
momento teria alegremente cortado os tomates. Não podia acreditar que tinha
sido ele a pô-la naquele sofrimento.
E piorou. O trabalho de parto era
como uma locomotiva a ganhar velocidade, e os carris eram o corpo todo de
Bella. Mais forte, mais tempo, mais depressa. Mais forte, mais tempo, mais
depressa. Não sabia como é que ela aguentava. Até que não aguentou.
Foi-se abaixo, todos os sinais
vitais a baixar – ritmo cardíaco, pressão sanguínea, tudo a ir com o caralho.
Sabia quão grave era pela velocidade de reação da Dr. Jane. Lembrava-se das
drogas intravenosas, e de Vishous aparecer com… merda, instrumentos cirúrgicos
e uma incubadora.
A Dr. Jane calçou umas luvas
novas, olhou primeiro para Bella e depois para ele.
- Temos de a abrir e tirar o bebé,
está bem? Ela também está em sofrimento.
Aceno com a cabeça. Tinha acenado
várias vezes por ele e por Bella. O Betadine era laranja enferrujado quando V o
espalhou sobre a barriga inchada de Bella.
- Ela vai ficar bem? – Murmurou
Bella desesperada. – A nossa cria vai ficar…
A Dr. Jane inclinou-se para ela.
- Olha para mim, - As duas fêmeas
fitaram-se. – Vou fazer tudo o que posso para vos tirar às duas disto. Quero
que te acalmes, é o que tens de fazer. Acalma-te e deixa-me fazer aquilo que
melhor sei fazer. Respira fundo.
Zsadist também respirou fundo com
a sua shellan… e depois viu como as pálpebras
de Bella se abriram rapidamente e ficou a olhar para o teto de forma estranha.
Antes de lhe perguntar o que
estava a ver, ela fechou os olhos.
Sentiu um instante de terror, com
medo de que ela não os voltasse a abrir.
Depois ela disse:
- Assegura-te só de que a cria
está bem.
Nesse momento estacou, enregelado,
porque era evidente que Bella não pensava sobreviver. E a única coisa com que
ela se preocupava era com a cria.
- Fica comigo, por favor, - pediu
quando a incisão foi feita.
Bella não o ouviu. Perdeu a
consciência devagar como se seguisse num barco que se tivesse desprendido e
flutuasse em águas calmas.
Nalla nasceu às seis e trinta e
quatro da manhã.
- Está viva? – Perguntou ele.
Apesar de agora se envergonhar por
admitir, só quis saber, porque Deus o valesse se Bella recuperasse e soubesse
que a filha tivesse nascido morta.
A Dr. Jane dava pontos em Bella,
Vishou foi rápido com o balão de sucção no nariz e na boca da cria, depois
introduziu-lhe uma pequena injeção e fez-lhe qualquer coisa às mãos e aos pés.
- Está viva?
- Zsadist?
Abriu os olhos de repente e
regressou ao presente.
- Precisas de mais analgésicos? – Perguntou
Bella – Pareces estar em agonia.
- Não acredito que esteja viva.
Era tão pequenina.
Bella estava confusa, enquanto as
palavras saíam da boca de Zsadist, mas só por uma fração de segundo. O parto…
ele estava a pensar no parto.
Ela afagou o cabelo suave e curto
dele, a tentar acalmá-lo.
- Sim… sim, ela era pequenina.
Os seus olhos amarelos percorreram
as outras pessoas que estavam no quarto e a voz baixou.
- Posso ser honesto?
Ó, merda, pensou ela.
- Sim, por favor.
- Eu só quis saber se ela estava
viva, porque não queria que te dissessem que não estava. Tu só te preocupavas
com ela… e eu não conseguia aguentar se te perdesse.
Bella franziu a testa.
- Referes-te ao final?
- Sim… tu disseste que só querias
ter a certeza de que ela estava bem. Foi a última coisa que disseste.
Bella pôs-lhe a mão no rosto.
- Eu pensei que estava a morrer e
não queria que ficasses sozinho. Eu… eu vi a luz do Vápido. Rodeava-me,
banhava-me. Eu estava preocupada contigo… do que te podia acontecer se eu não
sobrevivesse.
O rosto dele ficou mais pálido, a
prova de que havia um tom mais claro que o branco no espetro.
- Pensei que era isso o que estava
a acontecer. Ó… Deus, nem consigo acreditar como estava próximo.
A Dr. Jane aproximou-se da maca.
- Desculpem interromper. Preciso
de verificar rapidamente os sinais vitais.
- Claro.
Enquanto Bella observava a médica
a fazer um exame rápido, pensou como aquelas mãos fantasmagóricas tinham
ajudado a filha a vir ao mundo.
- Ótimo, - disse a Dr. Jane,
colocando o estetoscópio à volta do pescoço. – Estás bem. Estás estável e deves
poder levantar-te e andar dentro de aproximadamente uma hora.
- Obrigada, - murmurou Bella
quando Z disse o mesmo.
- O prazer foi meu. Acreditem. Agora,
que tal sairmos todos e deixar-vos sozinhos um bocado?
- A multidão dispersou entre
ofertas de ajuda e de comida e de qualquer coisa que precisassem. Wrath, da
porta, parou e olhou para Bella.
A mão dela firmou-se no ombro de Z
quando o Rei fez uma pequena vénia com a cabeça e fechou a porta depois.
- Ela clareou a garganta.
- Posso trazer-te alguma coisa
para…
- Precisamos de conversar.
- Mais tarde…
- Quando te fores embora? – Z
abanou a cabeça. – Não. Tem de ser agora.
Bella puxou um banco com rodinhas
e sentou-se, afagou-lhe o braço por não poder segurar-lhe as mãos ligadas.
- Tenho medo. E se nós não…
conseguirmos ultrapassar isto…
- Eu também tenho.
As palavras ficaram suspensas no
silêncio do quarto da clínica, Bella recordou-se de acordar da cesariana no dia
do parto. Os olhos de Zsadist foram a primeira coisa que viu. Esteve em agonia
a fitá-la, mas a dor desapareceu lentamente, passando a incredulidade e posteriormente
a esperança.
- Mostrem-lhe a cria. – Disse
rispidamente Z. – Depressa.
Vishous empurrou a incubadora até
lá, e Bella viu a filha pela primeira vez. Arrastando a linha da intravenosa
que tinha no braço, pôs as pontas dos dedos na cápsula de plástico. No instante
em que tocou no escudo transparente, a bebé virou a cabeça.
Bella olhou para Zsadist.
- Podemos chamar-lhe Nalla?
Os olhos dele humedeceram-se.
- Sim. Claro. Tudo o que quiseres.
Beijou-a e deu-lhe a veia e tudo o
que se podia desejar de um companheiro carinhoso e atento.
De volta ao presente, ela abanou a
cabeça.
- Parecias tão feliz. Logo após o
nascimento. Festejaste com os outros. Estavas lá quando puserem as fitas no
berço… Foste ter com Phury e cantaste para ele…
- Porque estavas viva e não
tiveste de sofrer a perda da tua cria. Os meus maiores medos tinham
desaparecido. – Z levantou uma das mãos como se quisesse esfregar os olhos, mas
franziu o sobrolho, vendo que, definitivamente, não o podia fazer por causa das
ligaduras. – Eu estava feliz por ti.
- Mas depois de me alimentares,
ficaste junto da incubadora e estendeste-lhe a mão. Até sorriste quando ela
olhou para ti. Havia amor na tua cara, não era só alívio. O que é que mudou? –
Como ele hesitou, ela disse, - Estou disposta a dar-te mais tempo se é isso do
que precisas, mas não posso ficar fora disto. O que é que aconteceu?
Z fitou a grade da luz cirúrgica
que pendia por cima dele e fez-se um longo silêncio, um silêncio tão longo que
Bella pensou que talvez tivessem embatido numa parede intransponível.
Mas uma grande lágrima solitária
formou-se no canto do olho esquerdo dele.
- Ela está nos sonhos comigo.
As palavras foram ditas tão baixo que Bella
tinha de se certificar que tinha ouvido bem.
- Como?
- Os sonhos que tenho de ainda
estar com a Senhora. Nalla… ela está na cela. Consigo ouvi-la chorar quando a
Senhora vem ter comigo. Eu forço as algemas para me libertar… para a proteger…
para a tirar dali… para parar o que vai acontecer. Mas não consigo mexer-me. A
Senhora vai encontrá-la. – Os olhos atormentados moviam-se de um lado para o
outro. – A Senhora vai encontrá-la e a culpa é minha de Nalla estar na cela.
- Ó… meu amor… Oh Z. – Bella
levantou-se e enroscou-se com cuidado por cima do seu tronco, abraçando-o com
suavidade. – Ó… Deus… e tu tens medo que a Senhora a mate…
- Não. – Z clareou a garganta
novamente. E outra e outra vez. O peito começou a subir e a descer com força. –
Ela vai… obrigar Nalla a ver… o que me vão fazer. Nalla tem de ver…
Zsadist lutou para não se deixar levar
pelas emoções, perdeu a luta, chorou convulsivamente, com poderosos soluços de
macho.
- Ela vai ter de… ver o… pai a…
Bella podia apenas abraçá-lo com
força e molhar a roupa do hospital com as suas próprias lágrimas. Ela sabia que
o que quer que fosse tinha de ser mau. Mas não fazia a mínima ideia de que era
tão mau.
- Ó, meu amor, - disse ela quando
ele a abraçou e ergueu a cabeça para a enterrar o rosto no cabelo dela. – Ó meu
amor querido…
E agora quero dar colo ao meu Z....
E chorar...