Chegou o dito cujo dia…
Tcham-tcham-tcham-tcham…
Ok, no final chamem-me os nomes
que quiserem… mas que caiu uma lagrimita, caiu… ou duas… Não estava bem…
Mim permanece muito murcheca. A
voz sexy desapareceu de vez, mas a garganta continua a doer e ainda não me
separei definitivamente dos lenços. Não sei muito bem para que servem as bolas
que me mandaram engolir com água. Disseram-me que era para melhorar depressa.
Não vejo velocidade. Acho que fui enganada por mais um mentiroso que se diz
veterinário. Não se pode confiar em
ninguém…
Alguns de vocês já viram que
tenciono meter férias. Pois é. Vou acabar com as traduções do Lover Reborn na sexta. E não sei se
tenho vontade de retomar outras coisas. A ver vamos.
Só para descansar a minha Alex:
não há cenas manhosas do Qhuinn e da Layla. Nem podia haver. A Layla só tem
Xcor na cabeça. O Qhuinn só vê Blay à frente. Aquilo foi só para procriação.
O spoiler de hoje é dedicado à Rute Porem que
já tem os lenços prontos desde segunda-feira. :D
SPOILERS
PARA ALGUNS
Lover
Reborn
Todos os elementos da mansão
estavam de pé em volta do grande espaço, os doggen,
as shellans, os convidados, todos
vestidos de branco, de acordo com a tradição. A Irmandade estava numa linha
reta no meio com Phury à cabeça, seria ele a fazer o ofício, depois John, que
fazia parte da cerimónia. Wrath vinha a seguir. Depois V, Zsadist, Butch e
Rhage no fim.
Wellsie estava no centro de tudo,
na sua bela caixa de prata, numa pequena mesa coberta em seda.
Tanto branco, pensou. Como se a
neve do exterior tivesse entrado às escondidas e se multiplicasse, apesar do
calor.
Fazia sentido: a cor era para os
acasalamentos. Para a cerimónia do Fade, era tudo ao contrário, a palete
monocromática simbolizava tanto a luz eterna a que os mortos iriam fazer parte,
quanto a intenção da comunidade de um dia se juntar a eles nesse lugar sagrado.
Tohr deu um passo, depois outro, e
um terceiro…
Ao descer, olhou para os rostos
desolados. Esta era a sua gente e tinham sido também a de Wellsie. Esta era a
comunidade com quem permaneceria e a que ela deixou.
Mesmo na tristeza, era difícil não
se sentir abençoado.
Havia tantos a apoiá-lo, até
Rehvenge, que agora era parte da casa.
Mas Autumn não estava entre eles;
pelo menos não a conseguia detetar.
No final, colocou-se numa postura
rígida perante a urna, as mãos cruzadas à frente, cabeça baixa. Assim que
assumiu a posição, John juntou-se, tomando a mesma posição, apesar de estar
pálido e de as mãos não pararem de tremer.
Tohr tocou no braço de John.
- Está tudo bem, filho. Vamos ultrapassar
isto juntos.
Instantaneamente, os tremores
pararam e o rapaz acenou com a cabeça, como se se tivesse acalmado um pouco.
Nos segundos seguintes, Tohr
pensou vagamente que era extraordinário como uma multidão daquelas dimensões
podia estar tão calada. Só conseguia ouvir o estalar da madeira nas lareiras do
outro lado da entrada.
À esquerda, Phury clareou a
garganta e debruçou-se sobre uma mesa coberta por seda branca. Com um gesto
gracioso, levantou-a para exibir uma enorme taça de prata com sal, um jarro de
prata com água e um livro antigo.
Pegando no volume, abriu-o e
dirigiu-se a todos na Língua Antiga. “Esta
noite, estamos aqui para marcar a passagem de Wellesandra, companheira do Irmão
da Adaga Negra Tohrment, filho de Hharm; filha de sangue de Relix; mãe adotiva
do soldado Tehrror, filho de Darius. Esta noite, viemos aqui para marcar a
passagem do gerado Tohrment, filho do Irmão da Adaga Negra Tohrment, filho de
Hharm; filho de sangue da amada falecida Wellesandra; irmão adotivo do soldado
Tehrror, filho de Darius.”
Phury virou a página, o pergaminho
pesado a emitir um som suave. “De acordo
com a tradição, e esperando ser agradável aos ouvidos da Mãe da raça, e consolo
à família enlutada, peço a todos que orem comigo para que aqueles que passaram para
o Fade tenham uma viagem segura. …”
(…)
O anjo brilhava da cabeça aos pés,
as argolas de ouro a refletir a luz de fora e de dentro e multiplicando-a.
Por algum motivo, não parecia
feliz. Tinha as sobrancelhas espremidas como se estivesse a fazer contas de
cabeça e não gostasse do resultado…
“Chamo agora a Irmandade para apresentar as suas condolências,
começando por Sua Majestade Wrath, filho de Wrath.”
Tohr achou que estava a ver coisas
e concentrou-se nos Irmãos. Assim que Phury se afastou da mesinha, Wrath foi
discretamente conduzido por V até ficar em frente da taça do sal. Puxou a manga
da túnica para trás, tirou uma das suas adagas negras e passou a lâmina no
antebraço. Mal o sangue vermelho veio à superfície, o macho estendeu o braço e
deixou cair algumas gotas.
Cada um dos Irmãos fez o mesmo,
olhos presos nos de Tohr enquanto reafirmavam sem palavras o luto que
partilhavam por tudo o que ele tinha perdido.
Phury foi o último, Z segurou-lhe
o livro para completar o ritual. De seguida, o Primale pegou no jarro e disse
palavras sagradas enquanto despejava água, tornando o sal manchado numa pasta.
“Peço agora ao hellren de Wellesandra para se despir.”
Tohr teve o cuidado de tirar a
impressão de Nalla antes de desatar a fita das Escolhidas e pôs ambas em cima
da túnica quando a tirou.
“Peço agora ao hellren de Wellesandra que se ajoelhe diante dela pela
última vez.”
Tohr fez como lhe disseram, caindo
de joelhos em frente da urna. Com a visão periférica, viu Phury ir até à
lareira de mármore à direita. Das chamas, o irmão retirou um ferro antigo, um
que tinha sido trazido do Velho País há muito tempo, um que tinha sido feito
por mãos desconhecidas, muito antes de a raça ter uma memória coletiva.
A parte inferior tinha cerca de
quinze centímetros de comprimento e pelo menos dois e meio de largura, e a
linha de símbolos na Língua Antiga estava tão quente que brilhava amarela, não
vermelha.
Tohr assumiu a posição apropriada,
fechando as mãos em punhos e inclinando-se para a frente de modo a ficar com os
nós dos dedos firmes na manta branca que tinham colocado no chão. Por uma
fração de segundo, só conseguiu pensar no desenho no mosaico da macieira que
estava por baixo dele, aquele símbolo de renascimento que começava a associar
apenas à morte.
Tinha enterrado Autumn aos pés de
uma.
E agora estava a despedir-se de
Wellsie em cima de uma.
Quando Phury parou à sua beira, a
respiração de Tohr começou a acelerar, as costelas a comprimir e a expandirem.
Quando acasalaste, e tiveste o
nome da tua shellan gravado nas
costas, era suposto aguentar a dor em silêncio para provares que eras digno
tanto do seu amor como do acasalamento.
Respira. Respira. Respira…
Não é assim na cerimónia do Fade.
Respira-respira-respira…
Na cerimónia do Fade, é suposto…
Respirarespirarespira…
- Qual é o nome do teu morto? –
Exigiu Phury.
Aí, Tohr inspirou uma grande
quantidade de oxigénio.
Quando o ferro lhe foi colocado
sobre o nome gravado há tantos anos, Tohr gritou o seu nome, toda a dor do seu
coração, na sua cabeça, na sua alma saíram como um, o som a estilhaçar-se
através da entrada.
O grito foi o seu último adeus, o
seu pedido de a encontrar no além, o seu amor a manifestar-se pela última vez.
Durou uma eternidade.
Ruiu completamente, a testa no chão,
enquanto o topo dos ombros ardia como se estivesse em brasa.
Mas isto era apenas o início.
Tentou erguer-se sozinho, mas o
filho teve de o ajudar, porque tinha perdido a força: com a ajuda de John,
retomou a posição.
A respiração ritmada a restaurar-lhe
a energia naquela forma ofegante.
A voz de Phury estava áspera ao
ponto da rouquidão.
- “Qual é o nome do teu morto?”
Tohr agarrou num hectare de
oxigénio e preparou-se para repetir.
Desta vez, o nome que gritou era o
seu, a dor de perder o seu filho a cortá-lo tão profundamente que sentiu como
se o peito sangrasse.
Gritou mais tempo desta segunda
vez.
E colapsou, o corpo exaurido
apesar de ainda não ter terminado.
Graças a Deus por estar lá o John,
pensou, ao sentir-se recolocado em posição.
De cima, Phury disse:
- “Para selar na tua pele para sempre, e para juntar o nosso sangue ao
teu, completaremos o ritual pelos teus amados.”
Nada de ofegar desta vez. Não
tinha energia.
O sal doeu tanto que perdeu a
visão e o corpo entrou em convulsões, os membros a tremer descontroladamente
até que caiu para o lado, apesar de John o estar a tentar manter direito.
De facto, só conseguia ficar assim,
ali deitado à frente daquela gente toda, muitos choravam abertamente, a dor
dele era a sua. Olhando para os rostos, queria reconfortá-las de alguma forma,
poupá-los do que ele tinha passado, acalmar-lhes o sofrimento…
Sem comentários.
Mim saber, mim ser totó.