A HISTÓRIA DO FILHO – Parte 3


            Para responder à Cláudia, esta história saiu num livro em que estão reunidos contos de vários autores do género. Chama-se Dead After Dark e foi lançado nos EUA em dezembro de 2008. Se quiseres o original em inglês, envia-me um e-mail. No final, também posso reunir os capítulos todos e enviar a quem estiver interessado em guardar a história.
            Queria agradecer à Viviane Pereira os comentários e desenganá-la: olha que isto de eu andar a traduzir é calaceirice, dizes que a tradução é muito boa, mas eu, cada vez que leio, encontro tantas falhas… Mas é bom que estejas a gostar!
            E agora a Denise que se recusa a ler pt-br para não odiar os livros. Pareces eu! Pedi os ficheiros e ainda não os abri com o medo. Odeio más traduções. Depois pus-me a pensar: Qhuinn passa a vida a chamar cocksuker ao Saxton, já viram o que era se traduzissem para “chupa-pilas”? He he he… A seguir pensei que a melhor tradução seria “paneleiro”, mas no Brasil é “veado” – E isso faz-me pensar no Bambi… Depois existe o problema das cenas eróticas passarem a porco-badalhocas se a tradução não for decente… e porco-badalhoco na variante brasileira do português dá um ar alienígena à coisa…
            Enfim, vamos ao que interessa: desejar um futuro sorridente às minhas chefinhas lindas, à cria fofa, aos familiares das lindas e dos fofos... e apresentar mais um capítulo da nossa história:




CAPÍTULO 3


Claire comeu tudo o que estava na bandeja, e enquanto comia, o silêncio que havia no quarto era natural, o que era estranho dadas as circunstâncias.
Depois de deixar o guardanapo, levantou as pernas, colocou-as sobre a cama e reclinou-se contra as almofadas, cansada, embora não de uma forma narcotizada. Enquanto olhava para a bandeja, teve o pensamento absurdo de que não podia recordar a última vez que se permitiu terminar uma refeição. Estava sempre em dieta, ficava sempre com um pouco de fome. Ajudava-a a manter o nível de agressividade, propiciava a acuidade, a concentração.
Agora sentia-se um pouco confusa. E… bocejava?
— Não me vou lembrar disto? — perguntou às costas.
Ele negou com a cabeça, a cabeleira ondeou, quase a roçar o chão. A combinação do vermelho e negro era fantástica.
—Porque não?
—Apagarei as suas lembranças antes que se vá embora.
—Como?




Encolheu os ombros.
—Não sei. Eu … encontro-as entre os pensamentos e enterro-as.
Agarrou na colcha e cobriu as pernas. Tinha a sensação de que se o pressionasse em busca de mais pormenores, ele não tinha mais para oferecer… como se não se entendesse muito bem a si mesmo ou à sua natureza. Interessante. A menina Leeds era humana, pelo menos pelo que Claire sabia. Assim, evidentemente, o pai dele teria sido…
Merda, estava mesmo a levar isto a sério?
Claire levou a mão ao pescoço e sentiu a marca, quase desvanecida, da dentada. Sim… sim, estava lá. E embora o cérebro se refreasse ante a ideia de que existiam vampiros, tinha uma prova irrefutável, não era?
Pensou em Fletcher. Ele também era diferente, não era? Não sabia o que era, mas a estranha força mais a sua óbvia idade… algo não batia certo.
O silêncio estendeu se, os minutos fluíram passando pelo quarto, a escorrer para o infinito. Tinha passado uma hora? Ou meia hora? Ou três?
Por estranho que parecesse, gostava do som dos suaves traços do lápis sobre o papel.
— Em que é que estás a trabalhar? —perguntou-lhe.
Parou.
— Porque desejava ver os meus olhos?
— Porque não? Completaria a imagem que tenho.
Deixou o lápis. Quando levantou a mão para afastar o cabelo e colocá-lo atrás do ombro, tremia.
— Preciso de… ir até si, agora.
As velas começaram a apagar-se uma a uma.
 O medo fez com que o coração palpitasse como se o diabo a perseguisse. O medo e… ó, Deus, por favor não permitas que aquele arrebatamento seja só por causa de um sentimento de antecipação.
— Espera! —interrompeu-o—. Como sabes se não… tirarás muito?
— Posso-me aperceber da sua pressão sanguínea e sou muito cuidadoso. Não poderia suportar feri-la. — parou à frente da escrivaninha. Mais velas se apagaram.
—Não nos deixes completamente às escuras, por favor - disse quando só a vela da mesinha de cabeceira continuava acesa—. Não consigo.
— É melhor assim…
— Não! Deus, não… isto não é assim. Não sabes o que sinto. A escuridão apavora me.
— Então fá-lo-emos com luz.
Quando começou a aproximar-se da cama, o que ouviu primeiro foram as correntes; de seguida viu emergir a sua sombra da escuridão.
— Poderia ficar de pé? — Perguntou-lhe—. Para que possa voltar a fazê-lo por trás de si? Assim não terá de me ver. Desta vez demorarei um pouco mais.
Claire suspirou, o corpo estava a aquecer, o sangue ardia nas veias. Queria perceber os porquês da perigosa falta de sentido de preservação, mas o que é que isso importava? Estava onde estava.
— Acho… Acho que te quero ver.
Ele duvidou.
— De certeza? Porque uma vez que inicio, é difícil deter-me a meio…
Deus, pareciam dois vitorianos sequiosos a falar de sexo.
— Preciso de te ver.
Ele respirou profundamente, como se estivesse nervoso e a refrear-se a si próprio para superar a ansiedade.
— Então poderia sentar-se na beira da cama? Dessa forma poderia ajoelhar-me à sua frente.
Claire trocou de posição de forma a que as pernas ficaram penduradas na beira do colchão. Ele agachou-se ligeiramente, dobrou os joelhos, e sacudiu a cabeça.
— Não — murmurou—. Vou ter de me sentar perto de si.
Sentou-se de costas para a vela, para que o rosto permanecesse na escuridão.
— Posso pedir que se vire para mim?
Ela trocou de posição e levantou os olhos. A luz da chama formava um halo ao redor da cabeça dele e desejou poder ver-lhe a cara. Ansiava ver a beleza dele.
— Michael — Sussurrou —. Deveriam ter-te chamado Michael. Pelo arcanjo.
Ele ergueu a mão e passou-a pelos cabelos, colocando-os para trás. Depois colocou-a no colchão enquanto se inclinava para ela.
— Eu gosto desse nome —disse brandamente.
Primeiro sentiu os lábios no pescoço, uma suave carícia de pele a roçar a pele. De seguida retirou a boca e soube que a estava a abrir, a exibir as presas. A mordidela foi rápida e decidida e ela deu um salto, muito mais consciente desta vez. A dor foi mais intensa, mas também o foi a doçura que se seguiu.
Claire gemeu quando o calor lhe percorreu o corpo e começaram os movimentos da sucção, quando a boca estabeleceu um ritmo. Não tinha a certeza de quando o tocou. Simplesmente aconteceu. Levou as mãos aos ombros.
Agora foi ele quem vibrou e, quando se afastou, a luz revelou parte do rosto. A respiração ofegante, tinha os lábios abertos, e a ponta das presas aparecia agora. Estava faminto mas perturbado.
Percorreu-lhe os braços com as mãos. Os músculos eram fortes e bem delineados.
— Não posso parar — disse com voz rouca.
— Eu só… te queria tocar.
— Não posso parar.
— Eu sei. E eu quero tocar-te.
— Porquê?
— Porque te quero tocar. — Não podia acreditar, mas inclinou a cabeça e expôs a garganta—. Toma o que precisares. E eu farei o mesmo.
Desta vez equilibrou-se sobre ela, segurando-lhe a cabeça com uma mão que pôs do outro lado da garganta e mordendo-a com força. O corpo agitou-se, os seios fizeram contacto com a dura parede do peito, a essência dele rugia. Agarrando-se aos seus poderosos bíceps, caiu para trás sobre as almofadas e ele foi com ela.
Agora o corpo de Michael estava completamente em cima do dela, o peso esmagava-a contra o colchão. Estava a bloquear a luz da vela por isso não podia ver nada com nitidez, embora o brilho que vinha por detrás dele evitava a escuridão profunda. De certa forma sentia-se bem, embora por um motivo perigoso: a escuridão fazia com que as sensações que sentia no pescoço fossem muito mais vívidas, o húmido contacto de sua boca morna, os puxões que dava quando engolia e a corrente sexual que havia entre eles.
Que Deus a ajudasse, mas gostava do que ele estava a fazer.
Claire estendeu a mão e encontrou-lhe o cabelo. Com um gemido de satisfação, enredou as mãos na espessura de seda, agarrou grandes mechas, abriu caminho para o couro cabeludo.
Quando ele ficou imóvel, ela ficou quieta e sentiu o tremor que lhe atravessava o corpo. Esperou para ver se continuava e ele também. Quando começou a beber outra vez, o quarto começou a girar, mas não se importou. Tinha-o a ele para se agarrar.
Pelo menos até que se separasse rapidamente e a deixasse na cama. Retirou-se para o canto escuro, só com as correntes para registar os movimentos, aparentemente desapareceu.
Claire voltou a si. Quando sentiu a humidade entre os seios, baixou os olhos. O sangue corria pelo peito e estava a ser absorvido pela camisa branca. Ladrou um palavrão e lutou para cobrir as incisões que ele tinha feito.
Instantaneamente, Michael estava à frente dela, a afastar-lhe as mãos.
— Lamento imenso, não o selei adequadamente. Espere, não, não lute comigo. Devo selá-lo. Deixe-me selá-lo para que possa deter o sangramento.
Segurou-lhe as mãos numa das dele, afastou-lhe o cabelo para trás, e pôs-lhe os lábios na garganta. Tirou a língua e acariciou a pele. E voltou a acariciá-la. E outra vez.
Não passou muito tempo antes dela esquecer o assunto do sangramento até à morte.
Michael soltou-lhe as mãos e embalou-a. Ela abandonou-se nos braços dele e deixou que a cabeça caísse para trás enquanto ele a lambia e a acariciava com o nariz.
Começou a ir mais devagar. De repente parou.
— Agora deveria dormir — Sussurrou.
— Não estou cansada. — Mentira.
Sentiu que a deitava sobre a almofada, a cortina do cabelo caiu-lhe para a frente enquanto a aconchegava.
 Quando ia a afastar-se, ela agarrou-lhe as mãos.
— Os olhos. Vais-me deixar vê-los. Se nos próximos dias vais continuar a fazer o que acabas de fazer, deves-me isso.
Depois de um longo momento, afastou o cabelo e levantou lentamente as pálpebras. As íris eram de um azul vívido e resplandeciam como o néon; de facto, brilhavam. E à volta tinham uma linha negra. As pestanas eram espessas e grandes.
O olhar era hipnótico. Do outro mundo. Extraordinário… tal como tudo nele.
 Baixou a cabeça.
— Durma. Provavelmente precisarei de si antes do pequeno-almoço.
— E tu que fazes? Dormes?
— Sim. — Quando olhou para o outro lado da cama, murmurou—: Esta noite não o farei aqui. Não se preocupe.
— Então onde?
— Não se preocupe.
Repentinamente desapareceu na escuridão. Abandonada à luz da vela, sentiu-se como se estivesse a flutuar na enorme cama, à deriva no que era em simultâneo um sonho delicioso e um pesadelo horrível.


3 comentários:

Viv disse...

Adorei! (apesar de te teres enganado na última vogal do meu nome XD), mas agora a sério, está muito bom,estou a adorar a história, só não percebo como é que a mãe dele pode ter feito isso com ele. btw o Fletcher é um doggen, não é? Se a mãe dele é humana como é que ela conceguiu ter um doggen como mordomo?

Maira disse...

de que livro é este trecho?

Maira disse...

de que livro é este trecho

 

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