Oi!
Repararam que
andei desaparecida? Pois é, o morceguito júnior esteve a comemorar a chegada da
primavera com uma salva de espirros, tosse, febre e derivados. Não foi bonito. O trabalho resolveu apertar de forma tenebrosa. Também não foi bonito.
Relativamente
ao voluntariado das traduções, muito obrigada, mas o conto já está todo
traduzido. É a minha insegurança que não me deixa publicá-lo sem o rever vezes sem
conta. Só quando acho que ninguém vai vomitar ao lê-lo é que o mando para o
blogue. Morceguices… O que também não é bonito.
Amanhã, se
tudo correr bem, haverá Blay/Qhuinn
(Ahhhhhhh….) para os sedentos de cenas extra-hot
em português. E vai ser muuuuuuuuuuito bonito!
Para já, mais
um capítulo, especialmente dedicado à Viviana Pereira, Marg2 e Alex Nason.
CAPÍTULO 5
Ao mesmo tempo que o som de uma porta de metal a
fechar-se ricocheteou nas paredes de pedra, chegou-lhes pelo ar o aroma a
bacon. Michael pareceu indeciso.
— Depois - disse ela.
— Deves comer.
— Depois.
— Não, agora. Eu… tenho muita fome de ti. Vou
ter contigo quando tiveres terminado. — Dito isto, foi procurar a bandeja, que
tinha sido deixada numa espécie de caixa de pão que havia junto à porta.
Colocou a comida na cama, e desapareceu na escuridão.
Quando
cessou o som das correntes, Claire vestiu a camisa. Era difícil conceber que
podia sentir-se frustrada depois do orgasmo que ele lhe dera. Mas estava.
Queria-o dentro dela.
Claire levantou a tampa, olhou para a comida, e estacou.
— Isto é o almoço.
O bacon estava dentro da quiche e havia um copo
de vinho à beira de um bolo de frutas.
— Estavas a dormir à hora do pequeno-almoço e
não queria que comesses comida fria.
Jesus, só tinha mais um dia e meio. Em
circunstâncias normais isto seria motivo de celebração, partindo do princípio
que ia conseguir sair viva dali para poder voltar para o vir buscar. Mas o facto
de ter de o deixar, embora regressasse para o libertar depois, deixava-a nervosa
como o diabo.
— Michael, vou-te tirar daqui. — Como não obteve
resposta, desceu da cama com a urgência fundada no medo pelo futuro—. Ouviste-me?
Começou a caminhar em direção ao canto escuro.
— Para - ordenou ele.
— Não. — Pegou no candelabro com a vela que oscilava
na mesinha de cabeceira e segurou-o à frente dela enquanto avançava em linha
reta através do quarto.
— Não te aproximes mais…
Quando a luz penetrou a escuridão do canto, prendeu
a respiração. Quatro correntes com algemas pendiam da parede, duas estavam a
aproximadamente um metro e meio de altura e as outras duas rentes ao chão.
— O que é isto? — rugiu—. Michael… o que é que
te fazem cá em baixo?
— Aqui é para onde tenho de ir quando limpam o
quarto. Ou quando trazem e levam as visitas. Tenho de me acorrentar e soltam-me
depois quando o Fletcher me põe a dormir.
— Ele droga-te? — Não é que não pudesse
acreditar que o mordomo fosse capaz duma merda dessas —.Já alguma vez tentaste
fugir?
— Já chega. Agora come.
— A comida que vá para o inferno. Responde-me. —
A voz aguda devia-se ao desespero que lhe oprimia o peito. Não podia imaginá-lo
a sofrer—. Tentaste fugir?
— Foi há muito tempo. E foi só uma vez. Nunca
mais.
— Porquê?
Separou-se
dela, a corrente que levava no tornozelo arrastava-se pelo chão de pedra.
— Porquê, Michael?
— Fui castigado.
Ó, Deus.
— Como?
— Tentaram-me tirar uma coisa. No final, ganhei,
mas alguém ficou ferido. Assim nunca mais protestei. Agora, come. Tenho que ir
ter contigo em breve. — Sentou-se à frente dos desenhos, pegou num lápis, e
ficou a trabalhar. Apesar de estar calmo, ela sabia que ele a tinha calado até
que fizesse o que lhe tinha pedido.
Podia ser tímido e humilde, mas não era ingénuo.
Não de certeza.
Só voltou para a cama e começou a comer porque
estava a fazer planos e era uma forma de passar o tempo. Enquanto pensava em
libertá-lo, e se preocupava com o que lhe tinham feito, olhou para o canto
escuro, depois para o quarto todo.
— Acende as luzes todas, por favor.
Fê-lo imediatamente e o quarto foi inundado de
luz.
Claire voltou os olhos para o canto escuro onde
estavam as correntes penduradas na parede. Temia represálias. Temia mesmo. Se ela
fosse embora, e eles soubessem que regressaria…
Não podia deixá-lo ali. Se já o tinham tentado
magoar era muito perigoso.
Regresso ao plano A. Ia levá-lo com ela.
Quando pousou o garfo, sabia o que tinha de
fazer. Michael teria de representar um pequeno papel; ela tomava conta do
resto. Mas ia levá-lo com ela. De forma alguma se arriscaria a deixá-lo ali.
Estava a limpar a boca quando se apercebeu de
que só havia um prato.
— Isto era para os dois? — Perguntou subitamente
horrorizada. Ela acabou com mais de metade da quiche.
— Não. Era só para ti. — Olhou-a por cima de seu
ombro—. Por favor, não pares. Quero que estejas saciada.
Quando voltou para a comida, pareceu-lhe que ele
obtinha um prazer desmedido em vê-la a comer, estava praticamente a brilhar de
satisfação. E era uma alegria estranha e libertadora ser encorajada assim. Ser
aceite assim. Grande parte do cenário de reuniões em Manhattan girava em torno
de ser sarcástica e manter-se em forma. Ser magra e estar na moda enquanto se
sentava frente do fato e gravata de um profissional. Dirigir a conversa sobre o
fim de obras da Broadway e do que tinha saído no Times e de quem conhecia. Um a tentar superar a outro de forma
sofisticada.
Quando
Claire pôs o prato na bandeja, estava cheia. Satisfeita. Relaxada apesar da
horrível situação. O sono apoderou-se dela como um menino às pernas, a querer
abraçá-la.
Fechou os olhos. Pouco tempo depois todas as
velas apagaram exceto uma, e sentiu a cama a mexer.
Ouviu a voz de Michael ao ouvido.
— Preciso de beber de ti.
Ofereceu-lhe
o pescoço sem reservas e incitou-o para que subisse para cima dela. Com um
gemido, afundou as presas na garganta e posicionou-se como ela lhe tinha
ensinado… entre as coxas, a ereção a pressionar o centro. Ela moveu-se por
baixo dele e abriu a camisa, ele aceitou o convite com ânsia. Percorreu-lhe a
pele com as mãos, abrindo caminho para baixo com carícias da mão quente e
masculina.
Quando
deslizou os dedos entre as suas pernas, começou a alimentar-se do pescoço dela.
Os
orgasmos rasgaram-na, a combinação dos dentes e do poder sexual dele foi demais
para ela e foi glorioso.
Quando finalmente largou o pescoço, lambeu-a
durante algum tempo e ela quis mais. Ele também. Levou a boca aos seios e ela
desavergonhadamente empurrou-o mais para baixo, para a pele suave do estômago.
Estava em delírio, em êxtase, deixando-se levar pelo fogo que havia entre eles.
Ouviu-o inspirar e soube que estava a olhar para
a vagina.
— É tão delicada - sussurrou—. E brilha.
— Por tua causa.
— Um homem… onde caberia?
Não acreditava que ele não soubesse, mas afinal
como poderia? O tipo de livros que lia, por certo, não incluíam a anatomia
sexual feminina.
Guiou um dos seus dedos para dentro de si mesma,
arqueando-se quando penetrou.
— Aqui… - a respiração mais pesada—. Dentro.
Aqui.
Ele gemeu e fechou os olhos como arrebatado. De
uma maneira muito boa.
— Mas é
pequena. Eu sou muito maior… na parte onde está minha virilidade.
— Acredita,
tu cabes. — ininuou-se contra a mão dele, a tirar prazer a si própria,
perguntando-se quando tinha sido a última vez que a sua prostituta interior
tinha aparecido.
Nunca.
Ele
observava o seu corpo, o rosto, tinha os olhos em todo o lado. O assombro e a
fascinação faziam com que tudo fosse novo para ela também.
— Sinto que quero… - Pigarreou—. Temo ter um…
desejo perverso.
— O quê?
— Quero-te beijar aqui - disse, percorrendo-a
com o polegar—. Porque te quero engolir.
— Então beija.
Os olhos cintilaram.
— Deixas-me?
— Oh, sim. — Abriu amplamente os joelhos, e
ondulou as ancas—. E não é perversão.
Acariciou a parte interna das coxas com as mãos,
segurando-a enquanto baixava a boca para a beijr. Gemeu contra a carne ao
primeiro contacto dos lábios, e o enorme corpo estremeceu a cama acelerando o
movimento oscilante, de maneira a que a antecipação erótica dele se juntou à
dela. No início foi lento, cuidadoso a aprender, os olhos levantados a ver por
cima do sexo através do estômago e seios para lhe observar a cara. Olhava-a
para se assegurar de que estava a fazer bem. E que bem o fazia.
— Sim… - disse ela com voz rouca—. Deus, sim,
adoro isto.
Levantou a cabeça e sorriu; depois deslizou os
braços por baixo das pernas dela e lambeu-a gentilmente, devagar no início. Rapidamente,
movia-se energicamente, tomando as rédeas até que o ronronar que emitia se
tornou selvagem e cortou a escuridão, o movimento rítmico acompanhando a corrente
sanguínea. O prazer não tinha fim, não tinha fim para aquela língua dele que
girava e se cravava, para os seus complacentes lábios e o seu ardente fôlego
nem para os orgasmos que tinha.
Quando
finalmente levantou a cabeça, ela estava capaz de chorar.
Esticou-se e atirou-se a ele, pronta para
devolver o favor. Mas, quando foi procurar o cinto do robe, ele agarrou-lhe as
mãos.
— Não.
Podia ver a ereção. A seda delineava a sua
grossura.
— Quero…
— Não. — A voz ecoou pelo quarto e fugiu, fugiu do
que ambos precisavam.
— Não temos que… fazer amor. — Como ele não disse
mais nada, murmurou:
— Michael, a esta altura deve estar a doer.
— Eu trato disso.
— Deixa-me a mim.
— Não! — Sacudiu a cabeça veementemente. A
seguir esfregou o rosto — Desculpa-me o mau feitio.
Considerando
o quanto excitado estava, era perfeitamente compreensível.
— Deixa-me só saber porquê.
— Vais tentar negociar o motivo.
— Porque quero estar contigo. Quero fazer com
que te sintas bem.
— Não pode ser.
Começou a sair da cama.
— Não faças isso - disse bruscamente—. Não me
deixes de fora.
Quando
Michael estacou, ela sentou-se e abraçou-o.
— Juro que vou devagar. Podemos parar quando quiseres.
— Não… não vais querer o que eu tenho.
— Não tomes decisões por mim. E se tens
vergonha, apaga as luzes.
Depois de um momento, o quarto mergulhou na
escuridão.
Beijou-lhe o ombro e empurrou-o contra as almofadas.
Pelo caminho, encontrou o nó do robe e desatou-o.
À medida
que lhe punha as mãos no peito e começou a acariciar-lhe os peitorais e os
mamilos tensos, a respiração começou a sair com dificuldade. Foi baixando, pelo
estômago bem delineado, os músculos a fletirem-se debaixo da pele suave e imberbe…
Encontrou-se com a cabeça da ereção e ambos prenderam
a respiração.
Meu… Deus. Não fazia ideia de que pudesse ser
tão grande. Mas afinal… ele era grande por todos os lados.
Michael estremeceu e rugiu quando ela o agarrou na
mão. Meu Deus era grosso demais para puder contorná-lo com a mão, mas sabia o
que fazer com ele. Acariciou-o de cima para baixo e ele gemeu e instintivamente
mexeu os quadris.
— Estou… - emitiu um ruído incoerente—. Estou…
tão perto. Já estou tão perto.
Ela acalmou, deslizando a mão para a base e…
Claire
ficou imóvel. E ele deixou de respirar.
Algo estava errado. Um rebordo anormal descia até
aos…
—Oh, Jesus… Michael.
Ele tirou-lhe a mão.
— Não é necessário que termines - disse com voz
rouca.
Ela lançou-se para cima dele para evitar que
fugisse.
— Tentaram castrar-te.
Graças a
Deus que não tinham conseguido.
— Porquê? Porque é que queriam…
O corpo
dele estremeu, mas desta vez não era nada sexual.
— A minha mãe pensou… que ajudava a controlar-me.
Mas não permiti que o fizessem. Feri o médico. Com gravidade. Foi aí que apareceram
as correntes. — Obrigou-a a afastar-se dele e ouviu o roçar do robe quando
voltou a vesti-lo—. Sou perigoso.
Claire
tinha a garganta tão tensa que quase não podia falar.
— Michael…
— Mas eu nunca te faria mal.
— Eu sei. Não duvido disso.
Permaneceu em silêncio durante um instante.
— Não quero que vejas o que sou.
— Eu não quero saber de uma cicatriz. Só me
preocupo contigo. Isso é o que importa. — Estendeu a mão através da escuridão.
Quando encontrou o ombro dele, ele assustou-se —. Quero continuar. Quero a
minha boca em ti, exatamente como quiseste a tua em mim.
Ficou silencioso
— Tenho medo - sussurrou.
— Meu Deus, porquê?
— Porque quero que … que faças o que disseste. Eu
quero… -te.
— Então deita-te outra vez. Nada do que
acontecer entre nós será errado, nunca. Volta para mim.
Encontrou as mãos dele e agarrou-as até que ele se
deixou cair para trás sobre as almofadas. Abriu-lhe depois o robe abaixo do
cinto e tomou-o na mão. Estava parcialmente ereto e cresceu na mão, endurecendo
rapidamente como uma rocha. Quando se baixou sobre ele, colocou a dura
extremidade entre os lábios e preencheu a boca, ele gritou o nome dela e
afundou os joelhos no colchão, o corpo hirto.
Tentou afastá-la.
— Vou acabar na tua…
— Não, não acabas. Vais acabar noutro sítio. — Encontrou
um ritmo com a mão e chupando a cabeça do membro sentiu-o tremer e suar e…
E quando estava duro e pronto, soltou-o e
arrastou-se para cima do peito dele.
—Faz amor comigo, Michael. Acaba dentro de mim.
Gemeu.
—É tão pequena…
Sentou-se
aberta sobre ele, preparada para os unir, mas quando ele ficou absolutamente parado,
teve dúvidas. Deus, agora sabia o que sentiam os homens decentes, o
desassossego antes de possuir alguém pela primeira vez. Não queria forçá-lo.
Desejava intensamente fazê-lo com ele, mas só se o sentimento fosse mesmo
mútuo.
—Michael? —disse brandamente—. Estás bem?
Não estava e a quantidade de tempo que levou
para dizer que sim comprovou-o.
—Se pensas que estou a levar isto muito longe…
Repentinamente, rodeou-a com os braços.
—E se te magoar?
—Essa é a tua única preocupação?
—Sim.
—Não magoas. Prometo. —Acariciou-lhe o peito—.
Vou ficar bem.
—Então… por favor.
Obrigada
Deus…
—Vamos trocar de posição. Vais gostar mais assim.
—Considerando o seu traço dominante, sabia que ia gostar de ter o controlo—. Se
estiveres por cima, podes conduzir…
Merda, deslocava-se depressa. Estava sobre as costas
dela em meio segundo. Mas ela foi igualmente rápida ao colocar a mão entre
ambos e posicioná-lo.
—Empurra com os quadris, Michael.
Ele empurrou e…
—Oh, Cristo.
—Oh… —gemeu.
Agarrou-se a ele e arqueou. Sentia-o enorme dentro
de si e apertou as coxas enquanto se acostumava.
—Magoo-te? —grunhiu.
—Está bom. —Instigou-o a que adotasse um ritmo,
uma lenta e erótica dança que acompanhava na perfeição. Era a glória, o corpo
dele tão pesado em cima dela, a pele tão quente, os músculos duros e fluídos—.
Mais, Michael. Não me vou partir. Não me vais magoar.
Ele enterrou-se nela e começou a bombear e
subitamente sentiu algo no ar, algo que emanava do corpo dele. A escura
essência era a sua fragrância natural, só que agora era muito, muito mais
intensa e tinha uma base diferente que era completamente sexual. Quando começou
a mover-se desenfreadamente, o cabelo dele enredou-se entre os corpos, os
lábios encontraram os dela e introduziu-lhe a língua na boca, teve o breve
pensamento de que nada na sua vida voltaria a ser o mesmo, jamais. Havia algo a
transmitir-se entre os dois, um pacto feito e aceite… só que ainda não sabia o
que estava a obter nem a que deveria renunciar exatamente.
Entretanto, sentia-se bem.
E de seguida perdeu o corpo, que saiu disparado,
para cair numa chuva de estrelas. Ouviu Michael ao longe a rugir e a convulsionar,
ejaculando uma vez, e depois outra e mais outra e muitas outras vezes mais.
Quando
terminaram, permaneceu estendido sobre ela, ofegando, e ela percorreu-lhe com a
mão os ombros molhados de suor.
Sorriu,
satisfeita. Contente.
—Isto foi…
Separaram-se
e ele saiu da cama com um salto, as correntes repicaram rapidamente sobre o
chão. Pouco depois, ouviu a água do chuveiro.
Assim que uma boa dose do assombro desapareceu,
Claire enrolou o corpo nos lençóis e enroscou-se. Era óbvio que tinha
interpretado mal a maravilha da união dos dois. Ele estava morto por lavar o
corpo e tirá-la de cima.
Nesse momento ouviu soluços.
Ou o que
pareciam soluços.
Claire sentou-se lentamente, a separar o ruído
da queda da água e isolar o que o ouvido tinha captado. Não tinha a certeza do
que estava a ouvir pelo que vestiu o robe e saiu da cama, foi até à casa de
banho usando as estantes de livros como guia. Quando estava à porta, hesitou
com a mão sobre a ombreira.
— Michael? — chamou baixinho.
Ele soltou um grito de surpresa, e ladrou:
— Volta para a cama.
— O que é que aconteceu?
— Peço-te… —a voz quebrou.
— Michael, não faz mal se não gostaste…
— Deixa-me.
Para o diabo. Cambaleou para frente, estendeu as
mãos para a infinita escuridão, avançou para o som da água corrente. Quando as mãos
tocaram na água parou.
Deus, e se lhe tivesse feito mal? E se tivesse
pressionado um inocente recluso levando-o longe demais, demasiado depressa?
—Fala comigo, Michael.
Como não se ouviu mais do que o som da água a
correr, sentiu que os olhos se enchiam de lágrimas.
—Desculpa ter-te forçado para que o fizéssemos.
—Não sabia que me ia sentir tão… —pigarreou—.
Estou destruído. Desarmado dentro da minha própria pele. Nunca mais voltarei a
estar completo. Foi tão bonito.
Claire acalmou.
Pelo menos não estava assim porque tivesse sido mau.
—Vamo-nos deitar.
—O que é que vou fazer quando fores embora?
—Não vais ficar aqui, lembras-te?
—Fico, pois. Devo ficar. E tu deves partir.
O medo
encolheu-lhe a pele.
—Isso não vai acontecer. Não foi isso o que combinamos.
Fechou o chuveiro, e enquanto a água gotejava, suspirou
frustrado.
—Tens que ser razoável…
—Sou desgraçadamente razoável. Sou advogada.
Raciocinar é o meu trabalho. —Esticou a mão para o tocar, mas a única coisa que
encontrou foi ladrilhos de mármore. Virou-se às cegas, com as mãos à frente, procurou-o
e enredou-se na escuridão como uma trepadeira. Tinha a sensação de que ele estava
a afastar-se dela de propósito—. Queres parar de te esconder?
Riu-se.
—És tão…autoritária.
—Sou.
O som de
uma toalha a esfregar um corpo guiou-a para a esquerda, mas o bater de asas afastava-se
à medida que ela o perseguia.
—Deixa de fazer isso.
A voz de Michael veio de trás.
—Os homens que te amaram também eram assim?
Intensos e tenazes? Como foste comigo?
—Podes desmaterializar-te ou qualquer coisa assim?
Como é que te mexes tão depressa?
—Conta-me acerca dos homens que te amaram. Eram
tão fortes como tu?
Pensou em Mick Rhodes, o amigo de infância que
também era sócio no WN&S.
—Ah… um deles era. Os outros, não. E eles não me
amavam. Olha, vamo-nos concentrar no agora, parece-te bem? Onde estás tu?
—Então porque é que tiveste intimidade com eles?
Se não te correspondiam?
—Eu também não estava apaixonada por eles. Foi
só sexo. —No silêncio que se seguiu, um estranho tipo de frieza percorreu-lhe a
coluna—. Michael? Michael?
—Receio estar a sentir-me como um parvo.
—Porquê? —perguntou com cautela.
De certa forma ela sabia quando saiu da casa de
banho; foi como se o corpo dela pressentisse o dele ou algo parecido. Abriu
caminho para o quarto.
—Michael?
—Fui infantil, não fui? —O tom de voz era calmo
e contido. Horrivelmente calmo e contido—. Ter chorado por uma coisa que...
para ti é completamente normal.
—Ó, Deus, Michael, não. —Normal? Isto não foi normal.
Em nada—. Neste momento eu também sinto vontade de chorar porque…
—Porque sentes pena de mim, não é? Não devias. Não
sentir o mesmo que eu não é crime…
—Cala-te. Já. —Queria apontar-lhe o dedo, mas
não tinha a certeza em que direção apontar—. Não sou uma pessoa que sinta pena
das pessoas e não minto. Os outros homens não eram como tu. Nós não temos nada a
ver com eles.
Agora eles eram «nós», não era? Pensou.
—Michael, sei que tudo isto é muito difícil para
ti, e provavelmente adicionar sexo a isto tudo não foi uma boa ideia. Também percebo
porque é que sair daqui te assusta. Mas não estás sozinho. Vamos fazer isto
juntos.
Não fazia ideia de como isto ia acabar nem onde
iriam parar, mas o compromisso tinha sido feito. Com as mentes. Com os corpos.
Bem, vejam lá se de repente não se converteu numa
romântica. Toda a vida troçou da ideia da consumação do casamento. O sexo, do
seu ponto de vista, era só sexo. Entretanto, agora pensava de outra forma.
Sentia, sem razão aparente, que estavam unidos. Não fazia sentido, mas o
vínculo estava ali e a intimidade física tinha sido parte dele.
Os braços
dele estreitaram-na por trás.
—Sim, faz sentido. Eu sinto o mesmo.
Segurou-se
nas mãos dele e enconstou-se.
—Não sei onde vamos parar. Mas vou tomar conta
de ti.
O tom de
voz foi baixo e grave quando disse:
—E eu vou fazer o mesmo por ti.
Permaneceram
assim, unidos na escuridão, abraçando-se. Sentia o corpo quente contra as
costas, e quando se aproximou mais, sentiu a ereção dele. Rodou as ancas,
esfregando-se nele.
—Quero-te agora —disse-lhe.
O suspiro
disparou-lhe no ouvido.
—Tu consegues estar… pronta outra vez tão
depressa?
—Geralmente é o homem que precisa de recuperar.
—Ah. Bem, acho que podia fazê-lo toda a noite
sem parar…
E provou
que sim, que podia.
Fizeram amor tantas vezes que a atividade sexual
se confundiu transformando-se num único episódio erótico que durou… Deus, horas
e horas. ao longo da segunda refeição. Durante toda a noite.
O corpo
de Michael era capaz de ter um novo orgasmo aproximadamente dez minutos depois
de ter tido um e sentia-se tentado a explorar todos os gozos carnais do sexo.
Amou-a de todas as formas possíveis, e à medida que se ia sentindo mais e mais à
vontade, a veia dominante surgiu em maior escala. Não importava como começavam,
acabava sempre com ela por baixo, de frente ou de costas. Gostava de mantê-la no
lugar com o peso do corpo, e às vezes com as mãos, obrigando-a a submeter-se a
ele. Especialmente enquanto bebia da garganta dela.
E maravilhava-se com tudo o que fazia. A forma como
a dominava com a força, a sensação da grossura dentro dela, o selo da boca
sobre a garganta. Assim foi até que as penetrações se tornaram dolorosas e já
não foi capaz de as tolerar e se viu obrigada a detê-lo e se sentiu frustrada
porque não podia continuar. Queria mais daquela doce sufocação sob o dominante
corpo, queria mais da sua força.
Nalguns
aspetos, tinha-se sentido sempre como um homem no corpo de uma mulher, embora
não se tivesse dado conta até conhecer Michael. A atitude, o que a
impulsionava, a acuidade, todos aqueles componentes guerreiros da sua
personalidade, nunca tinham estado de acordo com o corpo que tinha, e os seus interesses
nunca tinham sido do género feminino, nem quando era jovem.
Mas diante
do corpo enorme de Michael abatendo-se sobre ela, com o seu sexo profundamente
enterrado dentro dela e os duros músculos endurecendo, ela tinha cedido, e ao
fazê-lo, encontrou-se a si própria. Era forte e débil, autoritária e submissa;
era todos os yins e yangs, tal como toda a gente. E o afeto que sentia por ele transformava-a,
e mudava a forma como via as coisas; aquelas felizes mulheres maternais com
nódoas de comida de bebé na roupa e que nunca tinha entendido? Aqueles homens com
caras de parvo estampadas no rosto quando falavam das esposas… inclusivamente
depois de cinquenta anos de casamento? Aquela gente que tinha tantos filhos que
as casas pareciam zonas desmilitarizadas... mas que mesmo assim não viam a hora
de chegar o Natal para poderem ficar algum tempo com a família?
Bem, agora entendia-os. O caos e o amor em
excesso e Ah!, o mundo era um lugar glorioso por causa disso.
Este pensamento fez com que franzisse o sobrolho.
Como é que o mundo exterior o iriam tratar? Como é que ele se alimentaria fora da
prisão? Para onde iria durante o dia? O que faria ele?
O seu
apartamento com todas aquelas janelas não era uma opção. Devia comprar outro.
Uma casa. Em Greenwich ou noutro sítio qualquer perto da cidade. Arranjava-lhe
um quarto na cave onde pudesse ficar.
Mas… não
era isso outra prisão? Não estaria ela, à sua maneira, a fechá-lo? Porque o que
ela via para quando saíssem era ele a continuar a viver escondido, à espera que
ela o fosse ver. Não merecia ele experimentar a vida? Pelos seus próprios
meios? Talvez até com os da sua espécie?
Como é
que poderia encontrá-los?
Michael estirou-se contra o seu corpo nu. Quando
lhe beijou a clavícula, disse-lhe:
—Eu gostava que…
—O quê?
—Eu gostava que te alimentasse como eu fiz. Eu gostava
de te dar alguma coisa de mim.
—Já me deste…
—Nunca me esquecerei desta noite.
Franziu a testa.
—Há de haver outras.
—Esta foi particularmente especial.
Bem, é obvio que foi. Tinha sido a sua primeira
vez, pensou Claire com o rosto aceso.
—Eu também acredito que foi.
Nesse instante
chegou a última refeição. O pequeno-almoço.
Michael levantou-se e trouxe-lhe a bandeja de
prata. Quando a deixou sobre a mesinha de cabeceira a vela acendeu-se e à sua
suave luz, observou como ele passava a ponta do dedo pelo cabo lavrado do garfo
de prata.
Aproximava-se a hora da despedida, pensou. E ele
também estava consciente disso.
Claire permaneceu
de pé, pegou-lhe na mão e guiou-o até à casa de banho... depois de abrir o
chuveiro, falou-lhe em sussurros.
—Diz-me qual é o procedimento. O que acontece
quando vêm buscar as mulheres?
Michael pareceu confuso, mas percebeu depressa o
que ela queria saber.
—Depois da comida, vou para o canto e ponho as
algemas. Ele vê por um buraco na parede. A mulher está na cama, tal como à
chegada. Entra com o carrinho, coloca-a nele, e sai. Mais tarde, droga-me.
Solta as correntes. E já está.
—Que aspeto têm as mulheres?
—Como?
—Estão apagadas? Estão completamente
inconscientes? Como estão?
—Estão quietas. Têm os olhos abertos, mas não
parecem dar-se conta do que acontece à sua volta.
—Então, esta comida está drogada. Esta comida
está drogada. — O que não importava. Ela podia fingir aquilo tudo sem
problema—. Como sabes quando vêm?
—Vêm quando devolvo a bandeja e coloco as
algemas.
Suspirou profundamente.
—Vamos fazer assim. Quero que te algemes, mas
deixa uma do pulso solta…
—Não posso fazer isso. Há sensores. Não tenho a
certeza de como é. No ano passado uma ficou mal apertada por causa da manga que
ficou presa. Ele soube e disse-me que a compusesse antes dele entrar.
Merda. Então, tinha de fazer tudo sozinha. A
vantagem residia no facto de Fletcher ter de se aproximar para a levantar.
Claire
esperou um pouco mais antes de fechar o chuveiro. Depois de se secar com a
toalha na escuridão, levou Michael de volta ao quarto.
Agarrou no garfo de prata da bandeja e pô-lo no
bolso do robe… depois pensou melhor. Se ela fosse o Fletcher, contaria os
talheres para se assegurar de que nenhuma peça fosse usada como arma.
Claire lançou um olhar sobre a mesa de desenho.
Bingo.
Levantou a bandeja e levou-a à casa de banho
onde atirou a maior parte da comida na sanita e puxou o autoclismo. A seguir
foi para onde Michael estava. Quando passou perto da escrivaninha, pegou num
dos seus lápis mais afiados e pô-lo no bolso do robe.
Parou à frente dele e entregou-lhe a bandeja.
—Chegou a hora.
Ele levantou a vista e olhou-a nos olhos,
tinha-os brilhantes por outra razão que não a extraordinária cor. Havia lágrimas
a revoar na base das suas densas pestanas.
Deixou a bandeja sobre a mesinha de cabeceira e abraçou-a,
e ela acabou por abraçá-lo também.
—Vai ficar tudo bem. Vou tomar conta de ti.
Ao baixar a vista para a ver, sussurrou:
—Amo-te.
—Oh, Deus… eu amo-te…
—E vou sentir saudades por toda a eternidade.
Quando
ela entrou em pânico e começou a lutar para se libertar, uma das lágrimas dele caiu-lhe
sobre a maçã do rosto. E ele depois passou-lhe a mão à frente da cara e ficou tudo
em branco.