Boa segunda-feira!
O morCeGo está a colocar um anúncio: precisa de um(a) escravo(a) para lhe tratar da gruta e das crias!
O morCeGo quer sopas e descanso e não está a conseguir!
E como tristezas não apagam dúvidas, vou ser feliz e continuar com o afamado Plano de Incentivo à Leitura.
Por sugestão da Sara, trouxe-vos o Father Mine. (Beijinhos, Sara)
Se alguém tiver mais sugestões, ou preferências, deixe-as num comentário, ou mandem um e-mílio ao morCeGo.
Quem já conhece, que releia numa versão altamente portuguesa.
Quem não conhece, e não sabe o que está a perder, aproveite!
Entretanto, se conhecerem algum doggen, escravo, Irmão desocupado... avisem-me.
Para já, Bella e Zsadist estão na ordem do dia. (até estou nerbosa... ai o meu Z...)
Father Mine [Meu Pai] - Capítulo 1
- Então, Bela está com bom
aspeto.
Na bancada da cozinha da
Irmandade, Zsadist agarrou numa faca, juntou uma alface e passou-lhe a lâmina
em intervalos regulares.
- Sim, está.
Ele gostava da Dr Jane. Diabo,
estava em dívida para com ela. Mas tinha que se lembrar de ter modos: era muito
mau arrancar-lhe a cabeça à dentada, não só porque era a shellan de um Irmão como também por ter sido ela quem tinha salvo o
amor da sua vida de se esvair em sangue na sala de partos.
- Tem recuperado muito bem,
nestes dois últimos meses.
A Dr Jane observava-o da mesa do
outro lado, a sua mala tipo Marcus Welby,
MD perto da sua mão fantasma.
- E Nalla está a crescer. As
crias de vampiro evoluem muito mais depressa que os bebés humanos.
Cognitivamente é como se tivesse nove meses.
- Estão ambas a ir bem.
Continuou a cortar, movendo a mão
para cima e para baixo, para cima e para baixo. Do outro lado da lâmina, as
folhas saiam em tiras verdes como se estivessem felizes por estarem livres.
- E como é que te estás a dar com
isto de seres pai…
- Foda-se!
Deixando cair a faca, praguejou e
ergueu a mão que estava na alface. O corte era fundo, até ao osso, e o sangue
era vermelho à medida que jorrava e escorria pela pele.
A Dr Jane foi até ele.
- OK, vamos para a banca.
Ela não tentou tocá-lo no braço nem
tentou levá-lo com um empurrão no ombro; ela só observou e apontou para a Kohlerland.
Ele continuava a não gostar de
mãos no corpo, exceto das de Bella, apesar de ter feito alguns progressos.
Agora, se o contacto fosse inesperado, o primeiro movimento não era de agarrar
numa arma e matar quem lhe tocava.
À frente da banca, a Dr Jane
abriu a torneira de maneira a que uma torrente quente aterrasse na bacia de
porcelana.
- Para debaixo, - disse ela.
Ele estendeu o braço e pôs o
polegar na água quente. O corte ardia como o diabo, mas ele nem piscou.
- Deixa-me adivinhar, Bella
pediu-te para vires aqui falar comigo.
- Não. – Quando ele olhou para
ela, a boa médica abanou a cabeça. – Eu examinei-a a ela e ao bebé. Só isso.
- Ainda bem. Eu estou bem.
- Tinha o pressentimento que ias
dizer isso. – A Dr Jane cruzou os braços sobre o peito e olhou para ele com uns
olhos que o fez ter vontade de construir uma parede entre eles. Quer em estado sólido,
quer translúcido como ela estava agora, era indiferente. Quando eras olhado
pela fêmea daquela maneira, era como se levasses com um jato de areia. Por isso
é que ela e o V se davam bem. – Ela disse-me que tu não queres alimentar-te
dela.
Z encolheu os ombros. – Nalla precisa
mais do que eu daquilo que o corpo dela pode dar.
- Isto não é opcional. Bella é
jovem e saudável e tem excelentes hábitos alimentares. E tu deixas que ela se
alimente de ti.
- Claro. Para ela tudo. Para ela
e para o bebé dela.
Fez-se um longo silêncio. E
depois: - Talvez queiras falar com a Mary?
- Acerca do quê? – Ele fechou a
água e abanou a mão por cima da banca. – Só porque respeito e não exijo demais
à minha shellan, pensas que preciso
de um psiquiatra? Que caralho?
Arrancou uma toalha de papel do
rolo por cima dos armários e secou a mão.
- Para quem é a salada, Z? –
perguntou a médica.
- O quê?
- A salada. Para quem é?
Abriu o caixote do lixo e deitou
a toalha lá dentro.
- Bella. É para a Bella. Olha,
sem ofensa, mas…
- E quando foi a última vez que
comeste?
Pôs as mãos ao alto, tipo “Para!
Pelo amor de Deus.”
- Já chega. Eu sei que as
intenções são boas, mas eu sou de rastilho curto e a última coisa que nós
queremos é que Vishous venha atrás de mim porque te tratei mal. Eu sei onde
queres chegar…
- Olha para a tua mão.
Ele olhou para baixo. O sangue
corria desde o polegar até ao pulso e antebraço. Se não estivesse de manga
curta, aquilo havia de lhe chegar ao cotovelo. Assim, pingava nos azulejos de
terracota.
A voz da Dr Jane era
irritantemente calma e a lógica ofensivamente sólida: - O teu trabalho é
perigoso e confias no teu corpo para que faça o que for preciso para te manter
vivo. Não queres falar com a Mary? Tudo bem. Mas precisas de, fisicamente,
fazer algumas concessões. Esse golpe já devia ter fechado. Mas não, e aposto
que vai continuar a sangrar na próxima hora. – abanou a cabeça. – Isto é assim:
Wrath designou-me como médica pessoal da Irmandade. Se não comes, não te
alimentas e não dormes de modo não a prejudicares o teu desempenho, faço-te
sentar o cu no banco.
Z fixou as gotas vermelhas
brilhantes que se escapavam da ferida. O rio que formava seguia por cima da
negra banda de escravo que lhe tatuaram no pulso há quase duzentos anos. Tinha
outra no outro braço e uma à volta do pescoço.
Esticando-se, tirou outra toalha
de papel. O sangue limpava-se bem, mas não havia forma de se livrar do que a
cabra da Senhora usara para o marcar. A tinta estava entranhada no corpo,
colocada ali para mostrar que ele era propriedade a uso e não um indivíduo
livre.
Sem nenhum motivo, pensou na pele
tenra de Nalla, tão incrivelmente macia e absolutamente intacta. Todos
comentavam como ela era suave. Bella. Todos os Irmãos. Todas as shellans da casa. Foi uma das primeiras
coisas que comentavam quando pegavam nela. Isso e o facto de ser como uma
almofada, dava vontade de abraçar.
- Já tentaste tirá-las? –
perguntou a Dr Jane suavemente?
- Não podem ser tiradas. – disse
bruscamente, deixando cair a mão. – A tinta tem sal. É permanente.
- Mas alguma vez tentaste? Agora
há lasers que…
- É melhor ir tratar deste golpe
para poder acabar isto. – Agarrou noutro papel. – Vou precisar de gaze e fita
adesiva…
- Tenho disso na mala. – Voltou-se
para ir à mesa. – Tenho tudo…
- Não, obrigado. Eu trato disto
sozinho.
A Dr Jane olhou para ele com
olhar sereno: - Não quero saber se és independente. Eu não tolero a estupidez.
Estamos entendidos? O banco de suplentes tem o teu nome escrito.
Se ela fosse um dos Irmãos,
ter-lhe-ia mostrado as presas e bufado. Mas não podia fazer isso à Dr Jane, e
não era só por ela ser fêmea. Não havia nada a recriminar. Ela só dava opiniões
médicas objetivas.
- Estamos entendidos? – voltou a
perguntar, nada impressionada com o olhar feroz.
- Sim. Eu ouvi-te.
- Ainda bem.
- Ele tem uns pesadelos… Deus, os
pesadelos.
Bella curvou-se e enfiou a fralda
no caixote. Ao endireitar-se, agarrou noutra Huggies de debaixo da mesa de muda de fraldas, trouxe o talco e as
toalhitas. Segurou nos tornozelos de Nalla, limpou o rabinho da filha,
passou-lhe um toalhete, deitou pó de talco e colocou-lhe uma fralda nova.
Do outro lado do berçário, a voz
de Phury era baixa: - Pesadelos por ser escravo de sangue?
- Tem de ser. – Desceu o rabinho
limpo de Nalla e colou as tiras da Huggies. – Porque ele não fala comigo acerca
deles.
- Ele tem comido? Alimentado?
Bella abanou a cabeça enquanto
apertava o fatinho de Nalla. Era rosa pastel e tinha uma caveira branca com
ossos cruzados.
- Não tem comido muito e nada de
se alimentar. É como… não sei, no dia em que ela nasceu, ele parecia
maravilhado, empenhado e feliz. Mas depois foi como se desligasse um
interruptor e se fechasse. Está quase tão mal como no início. – Olhou para
Nalla que batia no desenho por cima do seu peitinho. – Desculpa ter-te pedido
para vires cá… não sabia o que mais havia de fazer.
- Ainda bem que chamaste. Eu vou
estar sempre aqui para vocês, tu sabes isso.
A embalar Nalla no ombro, ela
voltou-se. Phury estava encostado à parede beje, o corpo enorme a tapar os
coelhinhos e esquilos e corsas pintados à mão.
- Não te quero pôr numa posição
desagradável. Ou afastar-te de Cormia sem necessidade.
- Não te preocupes. – Abanou a
cabeça, o cabelo multicolorido a brilhar. – Se estou calado é porque estou a
pensar na melhor maneira de agir. Falar com ele nem sempre resolve as coisas.
- É verdade. Mas estou a ficar
sem ideias e sem paciência. – Bella foi até à cadeira de baloiço e reposicionou
a filha no colo.
Os olhos amarelos e brilhantes de
Nalla na sua carinha de anjo olhavam para ela como se percebesse tudo. Ela
sabia exatamente quem estava com ela… e quem não estava. Essa consciência
apareceu mais ou menos na semana anterior. E mudou tudo.
- Ele não pega nela, Phury. Ele
nem sequer pega nela.
- Estás a brincar?
As lágrimas de Bella turvaram a
cara da filha.
- Merda, quando é que esta
depressão pós-parto desaparece? Choro por tudo e por nada.
- Nem uma única vez? Não a tirou
do berço, ou…
- Ele não lhe toca. Merda, passas-me
um lenço? – Quando a caixa de Kleenex
ficou ao alcance, tirou um lenço e limpou os olhos. – Estou um desastre. Só
consigo pensar na Nalla a passar a vida a perguntar-se porque é que o pai não a
ama.- Praguejou baixinho quando vieram mais lágrimas. – Ok, isto é ridículo.
- Não é ridículo. – Disse ele. –
Não é, não.
Phury ajoelhou-se, a segurar os
lenços à frente. Estupidamente, Bella reparou que a caixa tinha uma imagem de
uma rua ladeada de árvores com um lindo caminho de terra a perder-se na
distância. De cada um dos lados, arbustos floridos com flores magenta pareciam
usar saias de ballet.
Imaginou-se a caminhar por esse
caminho de terra… até um lugar muito melhor do que aquele onde se encontrava.
Pegou noutro lenço.
- Eu cresci sem pai, mas pelo
menos tinha o Rehvenge. Não consigo imaginar o que seria ter um pai vivo, mas
morto para mim. – Nalla, com um som pequenino, bocejou amplamente e bufou, a
esfregar a cara com as costas da mão fechada. – Olha para ela. É tão inocente.
E responde tão bem ao amor… quer dizer… Pelo amor de Deus, vou comprar um
carregamento de Kleenex.
Com um som de desagrado, tirou
outro lenço. Para não olhar para Phury enquanto se assoava, os olhos vaguearam
pelo quarto alegre que tinha sido um armário antes do nascimento. Agora centrava-se
à volta da pequena, da família, com a cadeira de baloiço que o Fritz fez à mão,
e a mesa de muda de fraldas a condizer, e o berço ainda decorado com os laços
coloridos.
Quando o olhar parou na estante
baixa com todos os seus livros enormes espalmados, sentiu-se ainda pior. Era
ela e os outros Irmãos que liam para Nalla, que a sentavam no colo, abriam as
capas coloridas e liam as palavras que rimavam. Nunca o pai, apesar de ter
aprendido a ler há um ano.
- Ele não se refere a ela como
filha dele. É a minha filha. Para ele, ela é minha e não nossa.
Phury fez um som de reprovação.
- Para que saibas, estou a tentar
resistir ao impulso de o espancar.
- A culpa não é dele. Quer dizer,
depois de tudo por que passou… devia estar à espera disto, acho eu. – Aclarou a
garganta. – Quer dizer, esta gravidez não foi planeada, e eu imagino que… ele
esteja ressentido comigo e que lamente o nascimento dela.
- Tu és um milagre para ele. Sabes
que és.
Tirou mais lenços e abanou a
cabeça.
- Mas não sou só eu agora. E não
vou criá-la aqui, se ele não se acertar connosco… deixo-o.
- Ei, acho que é um bocadinho
prematuro…
- Ela começa a reconhecer as
pessoas, Phury. Ela está a começar a compreender que está a ser deixada de
lado. E ele teve três meses para se adaptar à ideia. À medida que o tempo passa
ele fica cada vez pior, e não melhor.
Quando Phury praguejou, ela
levantou os olhos para o brilhante olhar amarelo do gémeo do seu hellren. Deus, aquela cor citrina era a
mesma que aparecia no rosto da filha, não havia forma de olhar para Nalla sem
pensar no pai dela. No entanto…
- A sério, - disse ela – como é
que isto vai estar daqui a um ano? Não há nada mais triste do que dormir à
beira de alguém de quem sentimos a falta como se tivesse morrido. Ou ter isso
como pai.
Nalla ergueu a mão gorducha e
agarrou-se ao lenço.
- Não sabia que estavas cá.
Os olhos de Bella voltaram-se
rapidamente para a porta. Zsadist estava de pé à porta, uma bandeja nas mãos
com uma salada e um jarro de limonada. Tinha uma ligadura branca na mão
esquerda e na cara um não perguntes.
Ali, na entrada do berçário, ele
estava exatamente como quando ela se tinha apaixonado por ele e acasalado: um
macho gigantesco com o cabelo rapado, uma cicatriz a atravessar o rosto, bandas
de escravo nos pulsos e pescoço e argolas nos mamilos que se viam através da
t-shirt negra justa. Lembrou-se da primeira vez que o viu a esmurrar um saco no
ginásio do centro de treinos lá em baixo. Era terrivelmente rápido de pés, os
punhos a voar mais rápido do que a capacidade dos alhos dela de acompanhar os
golpes, o saco a ser atirado para trás com a força da pancada. Depois, sem uma
pausa, desembainhou uma adaga negra do peito esfaqueou a coisa que andou a
esmurrar, a rasgar com a lâmina a pele do saco, o enchimento a cair como os
órgãos internos de um minguante.
Acabou por saber que nele havia
mais do que um guerreiro feroz. Aquelas suas mãos também tinham muita ternura.
E aquele rosto arruinado com o seu lábio superior distorcido tinha sorrido para
ela com amor.
- Vim cá para ver o Wrath. – Disse
Phury levantando-se.
Os olhos de Z foram da caixa de Kleenex que o gémeo segurava até ao
monte de lenços que Bella tinha na mão.
- Pois.
Quando entrou e pôs o tabuleiro
na cómoda que guardava a roupa de Nalla, não olhou para a filha. Ela, no
entanto, sabia que ele ali estava. A criança virou a cabeça na direção dele, os
olhos desfocados a suplicar, os bracinhos gorduchos esticados para ele.
Z saiu do quarto.
- Boa reunião. Vou sair para
caçar.
- Eu levo-te à porta – disse
Phury.
- Não tenho tempo. Até logo. – O
olhar de Z encontrou, por um instante, o de Bella. – Amo-te.
Bella abraçou Nalla apertando-a
para o coração.
- Eu também te amo. Tem cuidado.
Anuiu com a cabeça e foi-se.
Só é pena não ter ido caçar para a minha gruta!
Mim consolar tu...