Querido diário,
Vou mudar de vida, porque isto não
leva a netos. Depois de me terem aprisionado, roubado, enxovalhado, libertado,
traumatizado e coisado – e nem sei por que ordem é que isso foi – tomei as
seguintes resoluções:
1 – Nunca mais vou passar cartão
à Nasan;
2 – Vou despedir a Micas porque não anda a musar nada;
3 – Vou deixar de escrever no berloque;
4 – Vou viver uma vida dedicada à
contemplação.
Quando me encher, logo verei o
que vou fazer a seguir. E se há coisa que me pode fazer mudar de ideias, são as
lindonas todas que deixaram comentários no berloque nestes meus dias de
ausência e todos os anónimos envergonhadiços que foram lá, mas não querem que
ninguém saiba.
Como não se devem deixar para
amanhã, o que se pode fazer hoje… meu querido diário, a fase da contemplação
vem já a seguir! :D
Beijos bons.
SPOILERS
THE KING
De pé, no chuveiro da casa de
Assail, Sola não sabia há quanto tempo ali estava debaixo da água quente, a
deixar a água bater-lhe nos ombros e cair-lhe pelas costas, de olhos fechados e
encostada à parede.
Por algum motivo, estava gelada,
apesar de haver vapor suficiente na casa de banho para classificar aquilo como
sauna e ela ter a certeza de ter aumentado a sua temperatura interna até aos
quarenta graus e meio.
Nada derretia o gelo instalado no
fundo do peito.
Dissera à avó que sairiam de madrugada
para Miami.
Vendo bem, ter investido num
refúgio bem no centro dos negócios de Benloise tinha sido uma estupidez. Mas
com sorte, o Eduardo, partindo do princípio que ainda estava vivo e fosse o
beneficiário do seu irmão, estaria muito entretido às compras de Bentleys azul
claro e lençóis com padrões animais da Versace e não iria atrás dela.
Se é que ele sabe o que o irmão
lhe tinha feito. Ou planeava fazer.
Ricardo guardava muitos segredos.
Meu Deus… O que é que Assail
fizera àquele homem?
Uma breve memória daquele rosto
dele, cheio de sangue à volta da boca e do queixo aumentou-lhe o frio e ela
girou o corpo…
- Foda-se! – Gritou ao ver através
do vidro enevoado.
A figura masculina que apareceu à
porta parecia imóvel como uma estátua e poderosa como um tigre. E olhava para
ela como um predador.
Instantaneamente, ela sentiu-se a
aquecer por baixo da pele, porque sabia porque é que ele tinha vindo e porque
sabia que ela também queria.
Assail avançou até à porta de
vidro que os separava e abriu-a de rajada. Tinha a respiração acelerada e, à
luz das lâmpadas embutidas por cima, os olhos dele brilhavam como fósforos
acesos.
Entrou no chuveiro vestido, os
sapatos Gucci arruinados para sempre, o casaco castanho-escuro a absorver a
água e a tomar a cor do sangue.
Sem uma palavra, prendeu as mãos
na cara dela e arrastou-lhe a cabeça até à sua boca, os lábios dele a esmagar
os dela, enquanto usava o corpo todo para a colar à parede de mármore. Sola
rendeu-se com um gemido, aceitando a língua que entrava nela, agarrando-lhe os
ombros através das roupas de bom corte.
Ele estava completamente ereto e
tinha-se enterrado contra ela, empurrando o duro pénis e a esfregá-lo na sua
barriga, o H dourado do cinto a arranhá-la. Mais beijos do tipo desesperado,
esfomeado que ainda se recordam quando temos oitenta anos e estamos demasiado
velhos para estas coisas. De seguida, as mãos dele estavam nos seios dela, os
dedos a apertar-lhe os mamilos até desaparecer a distinção entre dor e prazer e
tudo o que ela sabia era que se não tivesse um orgasmo depressa, iria morrer.
Como se pressentisse o que ela
queria, Assail caiu de joelhos, atirou uma perna dela sobre os ombros e
atirou-se a ela, os lábios a devorá-la da mesma forma que lhe tinha atacado a
boca.
Isto era sexo de castigo, uma
acusação acerca da escolha dela, uma expressão física da sua raiva e
desaprovação.
Talvez isso fizesse dela uma cabra
doentia, mas ela estava a gostar.
Ela queria que ele viesse ter com
ela assim, furioso e com raiva, que descarregasse nela para ela não se sentir
tão culpada… ou tão vazia.
Agarrada ao cabelo molhado dele, reposicionou
as ancas e obrigou-o a ser mais duro, usando o calcanhar nas costas dele,
encontrou o ritmo que…
Sola mordeu o lábio quando teve um
orgasmo selvagem, soltou um grito e o tronco estremecia contra o mármore.
Antes que desse conta, já estava
no chão do chuveiro, esticada à frente dele, enquanto ele descolava o casaco
encharcado e a camisa de seda do seu peito esculpido. Quando agarrou no cinto,
ela impediu-o, as mãos impacientes para chegar à pele macia e àqueles contornos
rígidos dele.
Ele não lhe dirigiu uma palavra.
Nem quando lhe afastou mais as
pernas e a montou, nem quando o pénis entrou e começou a mover-se nela, nem
quando se aguentou por cima dela e lhe olhou nos olhos como se a desafiasse a
deixar tudo o que ele lhe podia dar.
As largas costas de Assail levavam
com a água, escudando-a, deixando-lhe a visão imperturbada – por isso conseguiu
ver tudo, desde a sua expressão feroz, aos musculados ombros, à sombra que os
seus peitorais faziam. O cabelo molhado balouçava ao seu ritmo, gotas de água
escorriam pelas pontas como lágrimas e, de vez em quando, o lábio superior
subia….
Algo ficou vagamente registado
como se não estivesse bem, uma bandeira vermelha que se erguia algures no fundo
do cérebro dela. Mas era fácil de ignorar quando um novo orgasmo a dominava,
lhe desligava os pensamentos de forma que só havia sensação… só havia Assail.
No momento em que o sexo dela
apertou a ereção dele, ele começou a vir-se também, o corpo dele a flexionar-se
para trás…
Sem preservativo. Merda!
O pensamento passou-lhe pela
cabeça e desapareceu outra vez, o orgasmo a multiplicar-se, pelo que, em vez de
o empurrar, ela puxou-o para si e enterrou-lhe as unhas.
E foi mais ou menos quando o seu
orgasmo se dissipava que tudo ficou… um bocadinho estranho.
O corpo dela recuperava em sossego
e ela sentiu-o dentro de si a acabar o que tinha começado.
Só que ele ainda não tinha
terminado.
Depois de ejacular - pélvis colada
a ela - saiu dela quase de imediato. E ela esperava que ele se deitasse ao seu lado,
talvez até pegar nela ao colo para se limpar e metê-la na cama, talvez
comentar, diabo, não tinha tomado nenhuma precaução.
Talvez dizer-lhe o que lhe tinha
mostrado: que ele não queria que ela fosse embora.
Em vez disso, ergueu o tronco
apoiando-se numa mão e com a outra agarrou no pénis luzidio. Acariciando-se,
gemeu como se preparasse para se vir novamente.
O segundo orgasmo saiu dele
disparado e ele dirigiu o jato por cima do sexo dela – e não ficou por aí.
Depois de a cobrir, ergueu-se para mudar de posição e veio-se no estômago dela,
nas costelas, nos peitos, no pescoço, na cara. Parecia ter uma reserva
inesgotável e enquanto os jatos quentes faziam contacto com a sua pele
hipersensível, viu-se a ter orgasmos com ele, a percorrer as mãos para baixo e
para cima do seu próprio corpo, a sentir aquela coisa quente com que ele a
cobria, segurando nos próprios seios.
Algures na sua cabeça, ela sabia
que havia um objetivo naquilo.
Mas, tal como a falta de
preservativo, não estava em altura de querer saber.
Era como se ele… a estivesse a
marcar… de uma maneira qualquer.
E, por ela, estava tudo bem.
Sempre pensei que era
apenas um morceguito, mas sou um morceguito cabra doentia… Ai o que mim gostou
de ver o Assail assim a modos de coiso…
Convenhamos, é suposto
estes machos serem animaloides, não é?
Pois o Assail estava
demasiado paneleiroso com tão boas maneiras até que… GRAÇAS À VIRGEM SANTA
MORCEGUEIRA, esta coisa maravilhosa se revelou!
Aleluia!
Contemplemos, irmãos
E aquela nojeira toda
até deve fazer bem à pele… digo eu.