Olá pessoal!!!
Vamos aos avisos habituais que a NightShade deixou!
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Aviso
O blog informa que a tradução deste livro é feita por fãs para fãs, não vamos publicar o livro na íntegra, só alguns capítulos com o objectivo de oferecer aos leitores algum acesso ao enredo desta obra para motivar à compra do livro físico ou e-book.
A tradução é feita somente em livros sem previsão de lançamento em Portugal, para preservar os direitos de autor e contratuais, no momento em que uma data seja estabelecida por qualquer editora portuguesa na publicação deste livro, os capítulos traduzidos serão imediatamente retirados do blog.
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Capítulo 34
Marissa falou com Butch durante toda a noite.
Falou com ele enquanto fazia a sua reunião de pessoal, quando entrevistou um assistente social para um emprego, quando teve uma pequena visita com Mary. Na sua mente, ela esteve sempre a falar com Butch.
Em todas as conversas imaginárias, ela mostrava-se justa e assertiva, e com as suas declarações, a banda sonora que as acompanhava era Butch a concordar que ele era um idiota e que precisava de doze tipos diferentes de terapia. O facto de ele ao longo da noite lhe ter telefonado três vezes e lhe ter enviado duas mensagens de texto não estava a ajudar à sua causa. Também, ele poderia ter o Perry Mason a defender o seu caso que ela iria continuar a condená-lo a prisão perpétua sem possibilidade de voltar a ter sexo com a sua shellan.
Ela não lhe devolveu nenhuma das chamadas ou mensagens, e disse a si própria que o estava a excluir porque queria escolher bem as suas palavras primeiro. A realidade era muito menos louvável: Ela sentia-se magoada por ele, rejeitada por ele, posta de lado por ele, e queria que ele sentisse em primeira mão como era passar por isso.
O que não era nada atractivo.
Querida Virgem Escrivã, ela nunca fora uma pessoa rancorosa, e odiava que a coisa que mais prezava no mundo, a relação com o seu companheiro, a tivesse feito azedar.
E foi esse obstáculo que a levou a sair mais cedo do trabalho, a enviar-lhe uma mensagem a dizer que estaria à espera dele depois do treino e a decidir ter a conversa difícil que precisavam de ter.
Quando chegou de volta à mansão e deu uma olhadela ao grande vestíbulo, só conseguia pensar no número de pessoas que passavam por aquele espaço regularmente. Como era preciso privacidade, decidiu ir para o centro de treinos. Por um lado, depois de ter tomado a decisão de falar com Butch, ela queria fazer isso o mais depressa possível; por outro lado, o Fosso era demasiado claustrofóbico e ela não tinha a certeza se V ou Jane tinham a noite de folga.
Deus sabia que ela não queria que ninguém ouvisse nada.
Deixando o casaco e a pasta junto à porta escondida por debaixo da grande escadaria, introduziu o código correcto, 1914, e desceu a correr os degraus rasos. Depois de voltar a introduzir a mesma série de números, entrou no túnel subterrâneo e seguiu em direcção ao centro de treinos. De vez em quando, tinha de limpar as palmas das mãos suadas nas calças e remexia no cabelo, que por acaso estava solto.
Quando passou pelo armário das provisões e saiu para o escritório, tinha o coração aos saltos, a boca seca e o estômago a revirar.
Depois de anos a sofrer de ataques de pânico, rezou para que os seus nervos não a levassem para aquele inferno.
Verificando o fino relógio Cartier que Butch lhe dera no primeiro aniversário de acasalamento, achou que ainda tinha algum tempo de espera. Uma hora, pelo menos.
Óptimo, agora sentia-se presa num aquário de vidro.
Com um olhar por cima do ombro, ela olhou para a porta do armário e pensou se não deveria apenas caminhar pelo túnel algumas dezenas de vezes sob a teoria do exercício que limpa a mente, mas isso não a atraiu. Além disso, mais cedo ou mais tarde, mesmo que Butch não recebesse a mensagem, ele teria de regressar à mansão para a Última Refeição, e esta era a sua melhor aposta para o apanhar.
Olhando para a secretária, sentou-se na cadeira de escritório. O computador aceitou o seu login e, de seguida, ela entrou na conta do Gmail que tinha criado para as confirmações de presença no festival do Baile do Décimo Segundo Mês.
- Uau.
Inclinou-se para o ecrã e viu inúmeras respostas à espera. Claro que podiam ser todas a recusar comparência.
Pelo amor de Deus, havia facilmente uma centena de mensagens não lidas, e quando ela começou no topo, encontrou... todos a dizer «sim».
Aceitamos com prazer o vosso amável convite...
Mas, claro, tanto o meu filho como eu iremos ...
Com grande expectativa, aceitamos humildemente ...
Antes de ir muito longe, abriu uma gaveta lateral e tirou um bloco de notas amarelo. Com uma caneta de tinta azul, criou uma tabela com nome, resposta e número no topo. Passando entre a lista do computador e o papel, ela marcou os nomes e as respostas, e estava a meio da lista quando chegou ao nome do irmão.
Clicando duas vezes na entrada a negrito, susteve a respiração. E depois expirou.
Ele não vinha. Com três frases educadas, ele indicou que precisaria de estar na clínica, mas que certamente apreciava ter sido incluído.
Engraçado, era ao mesmo tempo um alívio e estranhamente desanimador. Ela estava à espera que ele viesse, especialmente depois de a fêmea inicial ter mencionado que tinha sido Havers a recomendá-la como presidente do evento.
Sentada, ela pensou em todo o seu objectivo de confrontar o passado. Wrath havia se desculpado com ela há muito tempo, e a maneira como ele havia abraçado Butch e o acasalamento deles de forma tão livre e calorosa tinha tido muito significado. Ela nunca tinha pensado muito no que tinha acontecido entre ela e o Rei, mas ao considerar o noivado condenado deles, e tudo o que tinha acontecido depois, ela descobriu que o tinha perdoado completamente. Ela só lhe dava amor e sabia que ele falaria com ela se ela quisesse ou precisasse. Ela estava verdadeiramente em paz com ele.
Com a glymera, por outro lado? Ela continuava irritada ao ponto de ficar furiosa com eles e com os seus padrões, mas não era como se ela pudesse alinhar aquele bando de artistas da treta e gritar com eles. Viver independentemente de tudo isso tinha sido uma estratégia muito mais saudável e bem sucedida.
E quanto a Havers? Ela tinha planeado falar com o irmão no baile, mas isso não teria sido um bom plano. Além de precisar da privacidade, provavelmente precisaria de cartazes com anotações. Ela nem sequer tinha a certeza do que lhe iria dizer. Esse era o problema das resoluções. Não se podia forçar nada até que se estivesse pronto para isso. E as suas emoções ainda eram muito voláteis.
Sim, pensou ela. O facto de ele não ir à festa ia facilitar-lhe a vida. E era menos um espectáculo para a audiência da glymera.
A resposta para falar com ele era, provavelmente, um pouco mais de tempo e talvez... bolas, talvez ela se sentasse com ele e Mary - se ele estivesse disposto? Quem poderia saber.
Butch era o seu principal problema. E aquela fêmea que tinha sido morta, claro.
Concentrando-se novamente, ela terminou a contagem, fechou o mail e fez uma estimativa dos números. Se aquela taxa de aceitação de quase cem por cento se mantivesse, eles teriam quatrocentas pessoas na mansão de Abalone. O que era o dobro do que ela tinha assumido quando calculou os custos de comida e bebida - algo que, claro, como responsável pelo evento, ela deveria cobrir.
Acho que ela tinha subestimado o quanto eles queriam ver e ser vistos.
Ela verificou novamente o relógio. Pelo menos tinha gasto uns bons trinta minutos.
Ansiosa, nervosa e com cãibras, mexeu no rato, vendo a pequena seta branca a andar em círculos no ecrã.
Ela ainda estava muito zangada com Butch. Apesar de se ter acalmado bastante, continuava magoada e...
Ela franziu o sobrolho e parou a seta.
No fim da linha de ícones, havia uma imagem minúscula, uma pequena representação do que parecia ser... a parte de trás da cabeça do seu hellren?
Mas aquilo não podia estar certo.
Clicando duas vezes na imagem, apareceu um registo. O nome de utilizador já estava preenchido com o nome dele, e a palavra-passe estava em branco.
Não havia nenhum título em lado nenhum, nada que a fizesse saber que tipo de ficheiro era. E isso deixou-a triste, mas dado o sítio onde estavam, ela desconfiava de tudo.
Por outro lado, quando se escondiam certas coisas do companheiro, era provável que a outra parte começasse a questionar praticamente tudo.
Voltando a colocar as pontas dos dedos no teclado, ela introduziu a palavra-passe que ele normalmente usava: «1MARISSA1!»
E de facto, ela conseguiu entrar...
Era uma imagem de vídeo, congelada e pronta a ser reproduzida, de Butch sentado à secretária, com a câmara atrás da cabeça.
Acertando na seta de reprodução, ela accionou o mecanismo e viu o seu companheiro a olhar para aquela chave preta com a borla vermelha. Não havia som, por isso ela não conseguia ouvir nada, mas imaginou o barulho que a coisa fazia de cada vez que caía no mata-borrão.
Um jovem macho entrou na sala.
Devia ser um dos recrutas.
E os dois começaram a falar. Claramente, devia ser uma entrevista a respeito do programa, e não estava a correr bem, se a cara do outro macho indicasse alguma coisa.
Quando Butch levantou a chave, tornou-se óbvio que estavam a falar sobre isso.
Está na hora do som, pensou ela, mexendo em vários botões. E que rapidez para chegar a lado nenhum. Depois de todos os tipos de F-qualquer coisa que não faziam o trabalho, ela descobriu que as colunas de som precisavam de ser ligadas - e mesmo assim não conseguiu nada. Demorou uma eternidade até descobrir que alguém tinha desligado o som da torre por alguma razão.
- Como é que é? - Perguntou o recruta.
Endireitando-se, ela concentrou-se na cabeça de Butch, e ele demorou um pouco a responder à pergunta.
- Depende da idade e da forma como aconteceu. As coisas mais recentes, especialmente se foram violentas…
- Do que é que estás a falar? - Disse ela em voz alta.
- O corpo não gosta muito de ser esfaqueado ou cortado em secções, e expressa a sua resposta a derramar sangue. Jesus, nós somos, tipo, setenta por cento água ou algo do género? E aprendemos que isso é verdade quando chegamos a uma cena de crime. Poças, gotas e manchas de sangue, por todo o lado. Depois temos as roupas sujas, os tapetes, os lençóis, as paredes, o chão ou, se for no exterior, a cobertura do solo, o betão, o asfalto… E depois há o cheiro.
Meu... Deus, pensou ela, enquanto uma onda de tristeza a tomava de assalto. Butch continuou.
- Nos casos mais antigos... o cheiro é pior do que a confusão. As mortes por água, com o inchaço, são simplesmente feias, e se o gás que se acumulou sair? O fedor dá cabo de nós. E não sei, eu também não gostava muito das mortes por queimaduras.
Houve outra pausa.
- Queres saber o que é que eu sempre detestei mais?
- Sim.
Ele fez um gesto sobre a cabeça.
- O cabelo. O cabelo... Deus, a porra do cabelo, especialmente se for de uma mulher. Emaranhado com sangue, sujidade, pequenas pedras... despenteado e torcido... deitado sobre pele cinzenta. Quando não consigo dormir à noite, é isso que vejo. Vejo o cabelo.
As mãos dele esfregaram-se uma na outra.
- Usava sempre luvas, sabes... para não deixar impressões digitais em nada, para não deixares nada de ti para trás. No início eram de látex, depois passaram a ser de nitrilo. E, por vezes, quando manuseava um corpo, o cabelo ficava nas luvas... e era como se quisesse entrar dentro de mim? Como se... se pudesse apanhar a morte por homicídio de alguma forma.
Butch abanou a cabeça.
- Aquelas luvas eram tão finas. E não funcionavam.
O recruta franziu o sobrolho.
- Então, porque é que as tinhas de usar?
- Elas funcionavam com as impressões digitais, sabes. Mas eu deixei algo de mim em todos aqueles cadáveres. Cada um deles... têm uma parte de mim.
Marissa desligou o som. Parou o vídeo. Pôs a cabeça entre as mãos.
***
- De manhã, estarás como nova.
Quando a Dra. Jane lhe entregou um espelho, Paradise preparou-se para o seu reflexo, mas, na verdade, não era assim tão mau.
- Quantos pontos são?
- Doze. Mas vai sarar sem qualquer cicatriz.
Levantando a mão, ela tocou mesmo por baixo da linha de pequenos nós pretos que estava junta à sobrancelha.
- Sangrei tanto, que até podia jurar que precisava de cem.
A Dra. Jane colocou uma pequena ligadura branca sobre o seu trabalho manual e depois o som de luvas de exame a serem retiradas ecoou na sala de azulejos.
- Essa zona tem um elevado grau de vascularização. É melhor alimentares-te, se já passou algum tempo - não é uma emergência, mas perdeste algum sangue e vocês estão a trabalhar muito.
Ou, no caso dela, a perder a concentração e a fazer figura de parva.
- Podes esperar pelo autocarro que vos leva de volta, ou se não quiseres ficar por aqui, posso pedir a um dos doggen que te leve para um local seguro para te desmaterializares.
Baixando o espelho, Paradise tentou imaginar o que o pai diria se visse a cara dela.
- Posso ficar aqui o dia todo? Não posso... não quero ir para casa com este aspecto.
A companheira de V sorriu, com os seus olhos verde-floresta bondosos enquanto passava uma mão pelo cabelo loiro curto.
- Na verdade, eu estava a pensar na mesma coisa, mas eu não vou obrigar ninguém a ficar aqui a não ser que seja medicamente necessário. E no teu caso, não é. É apenas talvez... um pouco mais fácil para o teu pai.
- Posso ligar-lhe do meu telemóvel?
- Claro. Se não conseguires apanhar sinal, e algumas pessoas não conseguem, há um telefone fixo na sala de descanso que podes usar.
- Muito obrigada - disse ela enquanto tirava as pernas da mesa. - Não senti nada enquanto estavas a dar os pontos.
- Estás a ir muito bem, Paradise. Todos estão tão orgulhosos de ti.
- Obrigada.
Ela olhou para baixo quando se pôs de pé e fez uma careta. Havia manchas de sangue nos seus Brooks, o que não era nada de especial, desde que ela não usasse os ténis perto do pai.
Sim, preciso mesmo de ficar aqui, pensou enquanto saía para o corredor.
Só depois de percorrer o corredor e abrir a porta da sala de descanso é que se apercebeu...
Ela e Craeg iam ficar nas mesmas instalações.
Durante todo o dia.
Enquanto o seu corpo fazia as contas e chegava a uma resposta totalmente nua, ela pensou: Que se lixe, se para estar com ele foi preciso uma agulha e uma linha, mais vale aproveitar o facto e pedir-lhe um beijo para me sentir melhor.
Indo até onde tinha deixado a mochila no chão com as mochilas dos outros, pegou nela e colocou-a na mesa mais próxima. Abrindo o fecho, remexeu nela, à procura do telemóvel. Não o encontrou.
Com uma careta, virou a Bally e deitou tudo fora. Ao passar por pacotes de lenços de papel, pela carteira, por tubos de rímel aleatórios, pelo Kindle, por dinheiro solto, por batom e por outras coisas, percebeu que tinha de se organizar melhor. Okay, onde estava...
O telemóvel dela não estava ali.
Mas que raio? Será que o tinha deixado em casa? Ela podia jurar que o tinha posto com o resto da tralha.
Inclinando a boca aberta da mochila na sua direcção, procurou na barriga vazia e depois abriu o fecho do bolso da frente para ver que outras porcarias inúteis...
O telemóvel dela estava nessa aba.
Franzindo o sobrolho, ela olhou em volta do quarto vazio sem qualquer razão aparente. O problema era que ela nunca punha a maldita coisa lá dentro, estava sempre com demasiada pressa para se dar ao trabalho de abrir o fecho. Além disso, tinha a paranóia de se esquecer de fechar o bolso e perder o telemóvel.
Nunca tinha posto o telemóvel naquele sítio.
Teria alguém mexido nas suas coisas?
Um a um, ela seleccionou os objectos em cima da mesa. Não faltava nada que ela pudesse ver, embora não fosse como se mantivesse uma lista mental detalhada das suas necessidades. E quando verificou a carteira, a identificação, os cartões de crédito e o dinheiro ainda lá estavam. Bem, se alguma coisa tinha sido levada, não valia mais do que dois cêntimos.
Quando voltou a guardar as suas coisas, engoliu um monte de arrepios, mas o que é que ia fazer? Ir ter com os Irmãos e dizer: «Oh, o meu telemóvel foi para este outro bolso aqui e...»
Sim, pois...
Sem sinal de rede, foi até ao telefone fixo que estava montado na parede junto ao frigorífico de vidro cheio de Gatorade, Coca-Cola e sumos de vários tipos. Quando tirou o auscultador do descanso, o tom de marcação era igual ao da Casa de Audiências, por isso carregou no 9 para uma linha externa e introduziu o número do pai.
Fedricah atendeu e, com uma voz alegre, disse ao mordomo que ia passar o dia no centro de treinos porque estava a trabalhar numa coisa para obter créditos extra. Também lhe garantiu que ia ser acompanhada.
E era verdade. Ela não ia ficar sozinha - não se ela tivesse alguma palavra a dizer sobre isso.
Craeg ia tomar conta dela.
- Está a doer?
Quando desligou, olhou para a porta. Craeg estava de pé na ombreira, com o peito nu a brilhar, os peitorais e os abdominais a sobressaírem sob as luzes do tecto.
Baixando as pálpebras, ela devorou a visão do corpo dele - e pensou, de facto, que de repente tinha uma dor.
- Olá? - Exigiu ele.
- Vou dormir aqui durante o dia.
Quando ele ficou imóvel e semicerrou os olhos, ela mostrou-lhe o telemóvel.
- Não tem rede. Sem serviço. Parece que vamos ter de arranjar outra forma de nos encontrarmos às sete, não é?