Olá pessoal!!!
Vamos aos avisos habituais que a NightShade deixou!
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Aviso
O blog informa que a tradução deste livro é feita por fãs para fãs, não vamos publicar o livro na íntegra, só alguns capítulos com o objectivo de oferecer aos leitores algum acesso ao enredo desta obra para motivar à compra do livro físico ou e-book.
A tradução é feita somente em livros sem previsão de lançamento em Portugal, para preservar os direitos de autor e contratuais, no momento em que uma data seja estabelecida por qualquer editora portuguesa na publicação deste livro, os capítulos traduzidos serão imediatamente retirados do blog.
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Capítulo 35
No parque de estacionamento do centro de treinos, Butch acompanhou os quatro recrutas que se iam embora até à porta do autocarro, certificando-se de que todos continuavam com as suas merdas. Depois voltou para dentro e percorreu o longo corredor em direcção ao escritório com passos lentos. Não fazia ideia de onde estava a Marissa, mas esperava que, quando voltasse a aparecer na mansão, ela lhe tivesse ligado, mandado uma mensagem, qualquer coisa.
Tinha deixado o telemóvel na mesa da sala de jantar da mansão por engano. Mas talvez isso fosse uma coisa boa. Estava a dar em doido quando verificou o aparelho na Primeira Refeição.
Percorrendo o corredor vazio em direcção ao escritório, apercebeu-se de que estava praticamente sozinho nas instalações: V e Tohr já tinham voltado para casa com a Dra. Jane, Manny e Ehlena para se prepararem para a Última Refeição, e da mesma forma, todos os doggen estavam a trabalhar na grande cozinha de Fritz. E Paradise, Craeg e Axe estavam a comer na sala de descanso.
Meu Deus, e se Marissa se mudou do Fosso? pensou ele.
Oh, porra, o que é que ele ia fazer se...
Quando abriu a porta de vidro, ficou paralisado.
- Olá - disse a sua shellan por detrás da secretária.
Ela era tão bonita, ali sentada com a roupa de escritório vestida e o cabelo loiro solto. Ele adorava aquelas ondas que lhe caíam sobre os ombros, e aquela blusa de seda com um ligeiro toque de cor-de-rosa realçava-lhe a pele como se ela estivesse num anúncio de uma revista da Estée Lauder.
- Recebi as tuas chamadas e as tuas mensagens - disse ela enquanto olhava para ele.
Ao entrar no escritório, ele deixou que a porta se fechasse sozinha e não sabia se devia sentar-se numa cadeira. Ritmo. Ajoelhar-se e começar a pedir desculpa.
- Desculpa...
- Desculpa...
Calaram-se os dois. E o silêncio que se seguiu foi um período em que cada um deles estava à espera que o outro falasse.
- Olha, eu devia ter-te contado sobre a Xhex - disse ele. - Não contei porque... foi antes de tu e eu estarmos juntos a sério. Conheci-a uma noite na discoteca do Rehv, foi só essa noite, e não foi nada demais. Não fazia ideia de que ela ia acabar por viver connosco e, quando o fez, era apenas mais uma coisa que eu estava a deixar para trás, percebes?
- Eu sei. Eu percebo. - Ele esperou que ela dissesse mais alguma coisa, mas quando ela se limitou a olhar para as mãos, ele franziu a testa e sentou-se na cadeira em frente.
- Tens a certeza disso?
- Tenho.
Butch abanou a cabeça perante o silêncio contínuo.
- Sei que não sou perfeito, mas se achas mesmo que a quero a ela em vez de ti, vou ficar muito chateado.
- Não, eu sei que não queres.
E mesmo assim ela não disse mais nada. No vácuo, enquanto tentava convencer-se a não saltar para fora da sua própria pele, pensou nele e em Xhex a cumprimentarem-se e a brincarem sobre como ele lhe devia por ela o ter salvo numa luta num beco com alguns minguantes.
- Ela é um dos «gajos», pelo amor de Deus.
- Eu sei.
Levantando uma mão, ele esfregou o olho esquerdo que tremia.
- Sabes mesmo?
Jesus, o que é que se passava com eles? Falar tinha sido sempre tão fácil, como respirar. Agora... todo este silêncio.
- Diz-me o que se passa contigo - ele murmurou. - Seja o que for, por muito que me magoe, diz, mas não me deixes aqui sentado a pensar no que raio se passa na tua cabeça, porque a minha vai explodir.
- Porque não me falaste do cabelo? - Disse ela de repente.
Butch levantou a cabeça.
- Desculpa?
- Eu vi a entrevista com aquele recruta. - Ela apontou para o ecrã do computador. - Vi parte dela. A parte em que contavas a um perfeito estranho algo que nunca tinhas partilhado comigo.
- A entrevista? Oh.... isso.
- Sim, isso.
Butch continuou a esfregar o olho.
- Não foi nada de importante.
- Sim, acho que estou condenada a ter que imaginar como foi a tua vida. Que mais não sei sobre ti? Depois de tanto tempo juntos, pensei que sabia tudo... pensei... - Ela engasgou-se um pouco, mas conseguiu recuperar. - O que mais é que eu não sei, Butch.
Quando ele olhou para os olhos dela do outro lado da secretária, uma sensação de mal-estar percorreu-lhe a espinha. Ela estava a olhar para ele como se não o conhecesse de todo.
- Marissa...
- Ver aquela fêmea espancada no sofá da sala de estar na Sítio Seguro arruinou-me completamente. Toda a... fealdade violenta, o sofrimento, a dor à primeira vista, a forma como ela olhou para mim, me suplicou com os olhos. - Os ombros esguios de Marissa tremeram. - Não te contei tudo isso porque tinha medo de te falar da tua irmã. Não falei contigo porque não te queria perturbar. Pronto, já disse. Não me faz feliz, e não me faz sentir melhor... mas é isso que tenho escondido de ti. Oh, isso, e ver o meu irmão outra vez partiu-me o coração ao meio, deixou-me desfeita. Fez-me sentir falta de partes da minha vida antiga, e isso fez-me sentir como se te estivesse a trair.
Ela levantou as mãos e continuou:
- É isso que se passa comigo. Então, o que tens andado a esconder. - Quando ele ia abrir a boca, ela impediu-o. - Antes de falares, fica bem ciente de que te amo. Amo-te com tudo o que tenho e com tudo o que sou. Mas se não fores sincero comigo, vou voltar para o Fosso, fazer as malas e mudar-me para o Sítio Seguro por uns tempos.
Ela susteve o olhar dele com olhos inabaláveis e prosseguiu:
- Tu e eu não vamos sobreviver a longo prazo, independentemente do amor ou dos laços, se continuarmos a varrer tudo para debaixo do tapete. Não é uma boa estratégia para nós, e se isto te faz sentir como se estivesses na berlinda? Como se eu te estivesse a fazer um ultimato? Não me interessa. Se alguma coisa se meter no caminho da nossa relação, seja o que for, eu vou acabar com essa merda, mesmo que sejas tu.
Butch apercebeu-se que tinha parado de respirar apenas porque os seus pulmões começaram a arder, e inflá-los com uma inspiração irregular pouco fez para melhorar a sensação de sufoco.
Marissa abanou a cabeça gravemente.
- Não se trata de saber se estiveste ou não com a Xhex. Trata-se do facto de achares que eu não aguentaria que me contasses, não é? Não quiseste ferir os meus sentimentos, e isso é nobre, mas não fales do que aconteceu entre vocês os dois em termos de «sem importância». Isso é uma desculpa - Ela abanou a cabeça com tristeza. - A história do clube de sexo é a mesma coisa. Tal como a tua questão com o sexo oral, que também te recusas a discutir comigo. O que interessa é que tens uma opinião muito lisonjeira, mas muito limitada, sobre mim. Queres cuidar de mim, mas está a colocar-me numa prisão, e sem ofensa, eu cresci na glymera e disseram-me todas as coisas que eu não podia fazer por causa de quem sou e do que eu era. Não vou continuar a aturar isso.
Deus... ele sentiu-se como se tivesse levado um tiro. E não porque algo em particular estivesse a doer. Era mais aquela sensação de frio que se aproximava à medida que o sangue saía por todo o lado. Sentiu também aquela sensação de tontura e dissociação da realidade.
- Então, como é que vai ser, Butch? - Perguntou ela suavemente. - O que pensas fazer?
***
Quando Marissa se calou, não fazia ideia de onde estava o seu hellren, em que é que ele estava a pensar, se tinha ouvido sequer uma palavra do que ela tinha dito. E era estranho: o seu coração nem sequer estava a bater, e as palmas das mãos não estavam suadas, o que, tendo em conta a encruzilhada em que tinham chegado, era uma surpresa. Mas, por outro lado, ela tinha dito a sua parte da forma mais calma e gentil possível. Agora era mesmo com ele; o futuro deles estava apenas nas mãos dele, de muitas maneiras.
Quando ele se mexeu na cadeira, ela preparou-se para que ele saísse, mas tudo o que ele fez foi encostar os cotovelos aos joelhos e esfregar aquela sombra de barba no maxilar. A outra mão tirou a cruz de ouro gigante que usava ao peito.
Okay, espera, agora as mãos dela estavam a ficar um pouco suadas.
- Eu, ah... - Ele limpou a garganta. - É muita coisa para assimilar.
- Eu lamento muito.
- Não lamentes.
- Tudo bem.
Por alguma razão, o zumbido suave do computador tornou-se muito alto, como se os ouvidos dela estivessem a esforçar-se tanto para captar o som do companheiro que amplificaram tudo o resto.
Ele pigarreou.
- Eu não sabia que era tão mau nisto.
- Mau em quê?
- Na nossa relação.
- Ainda estou apaixonada por ti, ainda te quero. Tu não falhaste em tudo, eu também sou parte do problema. Eu também não falei sobre o assunto.
- Não tenho tanta certeza disso. A parte de eu falhar, quero dizer.
Agora ela também se sentou para a frente e estendeu um braço sobre a secretária, embora não conseguisse chegar até ele, e percepcionou isso como uma metáfora.
- Butch, não... por favor, não te martirizes com isso. Não vai ajudar nenhum de nós. Fala comigo. Tens de falar comigo, é só isso que estou a dizer.
- Estás a dizer muito mais do que isso.
Ela levantou as mãos.
- Eu não tenho de ir ao clube se é assim tão horrível para ti. Não tenho de ir até ao fim quando te faço um broche se isso não te excita. Tudo o que estou a dizer é que tens de me dizer porquê, e temos de falar sobre as coisas, tem de haver outro tipo de comunicação para além de ficares em silêncio depois de me dizeres que é porque sou uma «boa rapariga e as boas raparigas não fazem isso, não conseguem lidar com isso».
Butch encostou as pontas dos dedos aos lábios.
- Não te contei sobre os pesadelos porque acho tão perturbador quando acontecem que a última coisa que quero é falar nisso quando não está na minha cabeça. Fico muito chateado com as merdas que ainda me assombram, e sinto que... se falar sobre isso… dá mais poder sobre mim.
Ela pensou na conversa que teve com a shellan do Rhage na noite de anteontem.
- Tenho quase a certeza que a Mary diria o contrário. Que quanto mais se fala sobre o assunto, menos poder ele tem.
- Talvez. Não sei.
Marissa deu por si a querer insistir, mas não o fez. Tinha a impressão de que a porta tinha sido aberta e a última coisa que queria fazer era assustá-la e depois fechar-se.
- Quanto aos broches... - Um rubor atingiu-lhe as bochechas. - Tens razão. Não quero falar contigo sobre isso porque tenho vergonha de mim próprio.
- Porquê? - Suspirou ela. - Porque...
Diz-me, pensou ela, enquanto ele se debatia. Tu consegues fazer isto... diz-me.
Os olhos dele olharam para os dela.
- Ouve, não estou interessado em que me digas como é suposto eu superar a mim próprio, estamos entendidos?
As sobrancelhas de Marissa franziram-se.
- Claro que sim. Prometo.
- Queres que eu fale, tudo bem. Mas se me vieres com tretas de «politicamente correcta», não vou aceitar bem.
Como ela nunca lhe tinha dado com nenhuma treta de «politicamente correcto», ficou com a certeza de que ele estava a estabelecer limites porque se sentia vulnerável.
- Eu prometo.
Ele acenou com a cabeça como se tivessem feito um acordo.
- Eu fui criado como católico, está bem? E quero dizer católico de verdade, não católico casual. E desculpa, ensinaram-me que só as prostitutas e as vadias faziam isso. E tu... tu és tudo o que eu poderia querer numa mulher.
Abruptamente, ele baixou os olhos e não conseguiu continuar.
- Porque é que tens vergonha? - Sussurrou ela.
Ele fez um esgar tão forte que o seu rosto quase desapareceu nas sobrancelhas.
- Porque eu...
- Porque queres que eu acabe?
Tudo o que ele conseguiu fazer foi um aceno de cabeça. Depois, ele olhou para cima bruscamente.
- Porque é que isso é um alívio para ti?
- Desculpa?
- Acabaste de suspirar como se estivesses aliviada.
Ela começou a sorrir para ele.
- Porque pensei que nunca me ias deixar fazê-lo, e eu sempre quis saber como era.
A cara do seu hellren ficou vermelha como uma beterraba. Completamente corado.
- Eu só... não quero desrespeitar-te. E é isso que a minha formação me diz que acontece quando se faz isso na boca de uma rapariga, significa que não se gosta dela, que não se ama, que não se respeita. E sim, claro, eu devia deitar fora toda essa ligação, mas não é assim tão fácil.
Marissa pensou nas suas dificuldades com o que a sua educação lhe tinha deixado.
- Caramba, como eu percebo isso. Sinto que devia deixar de ser amarga e insegura em relação ao meu irmão e aos meus anos na glymera. Mas é como se eu tivesse aprendido demasiado bem aqueles valores?
- Totalmente. - Ele sorriu um pouco e depois esfregou a cara.
- Estou bué vermelho, não estou?
- Sim. E é adorável.
Ele riu-se num ápice, mas depois ficou sério.
- Há outra razão. Bem, com a coisa do clube de sexo, há outra razão... mas é um pensamento louco. Quero dizer, muito louco.
- Eu não tenho medo. Desde que fales, sinceramente não tenho medo de nada.
Ela já conseguia sentir a ligação a crescer entre eles, e não era aquele sentimento de curta duração que se tem quando se tem bons orgasmos para depois ter de voltar à realidade de que tudo ainda tem que ser resolvido. Não, era o tipo de ligação que se fortalecia e cimentava como um alicerce, que dizia «eu já amava o meu companheiro, mas agora amo ainda mais».
E ela sabia que ele estava a preparar-se para falar da irmã, porque todo o seu corpo ficou imóvel ao ponto de ele parecer não estar a respirar. E depois, um brilho de lágrimas apareceu nos seus lindos olhos cor de avelã.
Quando ela se foi levantar para ir ter com ele, viu-o a lançar a mão ao ar.
- Não te atrevas. Não me toques, não venhas para aqui. Se queres que eu fale, tens de me dar algum espaço.
Marissa baixou-se lentamente para a cadeira. E enquanto o coração lhe batia nas costelas, teve de separar os lábios para continuar a respirar.
- Sempre fui supersticioso... - disse ele suavemente, como se estivesse a falar sozinho. - Sabes, um pensador supersticioso. Faço todo o tipo de ligações que na realidade não existem. É como o que eu estava a dizer ao Axe sobre as luvas de exame. A um nível racional, compreendo que não estou a deixar nenhuma parte de mim dentro ou sobre esses corpos, mas... não me parece assim.
Quando ele se calou de novo, ela ficou onde estava.
- A minha irmã... - Mais a pigarrear a garganta. E quando ele finalmente voltou a falar, a sua voz naturalmente grave não passava de gravilha. - A minha irmã era uma boa pessoa. Éramos muitos na família, e nem toda a gente era boa para mim. Mas ela era.
Mentalmente, Marissa recordou o que sabia sobre a rapariga: o desaparecimento, a violação, o homicídio, o corpo encontrado uma semana depois. Butch a ter sido o último a vê-la.
- Mas ela tinha um outro lado - disse ele. - Ela andava com muitos... porra, é difícil dizer isto... mas andava com muitos rapazes, percebes o que quero dizer?
O rosto dele estava pálido agora, os lábios comprimidos, aqueles olhos cor de avelã com as pálpebras pesadas como se ele estivesse a reviver más memórias.
Mas depois parou, e quando ele não disse mais nada, ela teve de preencher os espaços em branco.
- Achas que ela foi assassinada - sussurrou Marissa -, porque não estava a ser uma boa rapariga. Achas que se ela não tivesse tido sexo com aqueles rapazes, não teria entrado naquele carro e eles não teriam feito o que lhe fizeram e ela não teria morrido. - Butch fechou os olhos. Acenou com a cabeça uma vez. - E tu odeias-te por pensar assim, porque isso coloca a culpa nela... e isso é uma traição. Isso é culpar a vítima, e tu nunca, nunca, farias isso a ninguém, especialmente à tua própria irmã.
Agora ele acenou com a cabeça uma e outra vez, depois enxugou uma lágrima.
- Posso abraçar-te agora? - Perguntou ela com uma voz entrecortada. - Por favor.
Quando ele apenas acenou com a cabeça, ela correu para ele e abraçou-o, puxando-o para si até acabar sentada na secretária e ele cair no seu colo.
Inclinando-se sobre ele, cheirando-lhe o cabelo e o aftershave, acariciando aqueles ombros enormes, sentiu-se mais apaixonada por ele do que nunca, de facto, o que lhe ia no coração naquele momento era tão tremendo que ela não sabia como é que o seu corpo o aguentava.
- A culpa não foi dela - disse ele com aspereza. - E eu sei disso. O facto de eu ter tido esse pensamento uma vez... é tão feio. É tão mau como eu não a ter salvo... mais valia tê-la posto no carro. Jesus, acreditar que as acções dela eram o problema? - Butch sentou-se. - A minha cabeça fica toda lixada com isso... se eu tivesse uma filha, e Deus me livre - fez um rápido sinal da cruz sobre o coração - acontecesse alguma coisa com ela, e alguém tentasse culpar a sua saia curta, ou o facto de ela ter bebido um copo, ou setenta e cinco, ou ter consentido em fazer sexo e depois mudado de ideias a meio? Fazes alguma ideia do que eu faria a esse idiota misógino?
- Matava-lo, logo após teres morto o agressor.
- Podes crer! Foda-se, sim! - Ele fez um movimento circular ao lado da cabeça. - Mas depois toca aquela cassete antiga e, de vez em quando, cospe aquele pensamento horrível, e sinto-me tão culpado por o ter que me apetece vomitar. Na verdade, neste momento estou a olhar para o cesto dos papéis e a pensar se consigo lá chegar a tempo.
Quando os olhos dele se desviaram para o lado, ela desejou que Mary estivesse na sala com ela. Acho que era por isso que as pessoas iam a terapeutas, quando a barragem se rebentava assim, era melhor ter um profissional treinado por perto.
- E, já agora - acrescentou ele - tenho orgulho na minha religião. A Igreja não é perfeita, mas eu também não sou, e ela trouxe muita coisa boa para a minha vida. Sem a minha fé, mesmo contigo, eu seria uma sombra do que poderia ser.
- Compreendo perfeitamente, e o meu sistema de crenças não é diferente para mim. - Depois de um período de silêncio, Marissa pegou-lhe nas duas mãos. - Se eu for ao clube de sexo amanhã à noite, vais pensar mal de mim?
- Meu Deus, não.
Ela acenou com a cabeça.
- E, partindo do princípio de que algum dia te sentirás confortável com isso, se eu te chupar, vais olhar para mim com desprezo?
Ele riu-se num ápice.
- Provavelmente ainda te ia adorar mais.
- Vais continuar a pensar que sou uma boa rapariga?
- Sabes... na verdade, sim. - Ele parecia aliviado. - Sim, quero dizer, nunca tinha pensado nisso antes... mas vou continuar a amar-te de certeza.
- Então, és capaz de ultrapassar o pensamento antigo em relação a mim, certo?
- Sim, sou.
- Tipo, tiveste um pensamento, consideraste-o, e puseste-o de lado, certo?
- Sim. - Ele exalou. - Sim, é exactamente isso que estou a fazer.
- Então... porque é que não podes fazer o mesmo com a tua irmã. Ter o pensamento antigo. Considera-o em relação a tudo o que sabes sobre ela e sobre a sua maneira de ser, e acrescenta-lhe a tua crença de que a culpa nunca recai sobre a vítima, independentemente do que ela tem vestido ou qualquer coisa do género... e aposto que rejeitarás a ideia de que a tua irmã contribuiu de alguma forma para o que foi um crime horrível e indesculpável contra uma rapariga inocente. Aposto que vais resolver isso sozinho e provavelmente nunca mais vais pensar nessa parte da dor.
Ele pestanejou uma vez. Duas vezes.
- Esquece o broche - disse ele.
- Desculpa, o quê?
Butch olhou para ela com uma devoção tão completa, que era como se ela tivesse colocado o mundo a seus pés.
- Acho que acabei de me apaixonar ainda mais por ti. E não pensei... não conseguia imaginar como é que isso seria possível.
De facto, o seu aroma de união tornou-se um rugido na sala, e os seus olhos cor de avelã ficaram tão cheios de emoção e reverência que ela se sentiu um pouco tonta.
Tomando-lhe o rosto entre as mãos, beijou-o.
- Isto é muito melhor do que antes.
- Antes de quê?
- Se vou estar num pedestal - ela encostou a boca à dele outra vez - quero estar lá como a tua parceira perfeita, não porque tu achas que eu sou a menina bonita perfeita.
O seu hellren começou a sorrir.
- Entendido.
Enquanto ele lhe retribuía o beijo, ela pensou sobre o que era o «felizes para sempre» e decidiu que o amor verdadeiro não significava «sem esforço», e que o «felizes para sempre» não estava sempre em «piloto automático». Começava-se com a atracção, e depois abria-se o coração e a alma, mas tudo isso, que não era pouco, apenas nos levava ao primeiro nível.
Havia muitas, muitas outras viagens para fazer a níveis mais profundos de maior aceitação e compreensão. É aí que se encontra o «felizes». E o «para sempre» era o trabalho que estavam sempre dispostos a fazer para se manterem próximos, para aprenderem e para crescerem juntos como pessoas.
- Eu amo-te - disse ele enquanto a abraçava. - Meu Deus, eu amo-te.
Afastando-se um pouco, ela sorriu e passou as pontas dos dedos no rosto dele. Ela queria dizer-lhe aquelas palavras sagradas, mas de alguma forma elas não eram suficientes. Então, ela disse a única coisa que significaria ainda mais para ele.
- Os Red Sox são os maiores!
Atirando a cabeça para trás, Butch riu-se com tanta força que o som abanou a porta de vidro do escritório. E enquanto ela lhe sorria, pensou: Sim, «amo-te» pode ser dito em muitas combinações diferentes, não pode?
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Fiquem bem,
Sunshine ;)